quarta-feira, agosto 02, 2006

Fugindo da questão do espaço, caindo na do Conhecimento!

O espaço da Internet é infinito. Por mais que possamos crer que não seja, ele é... Mesmo que uma pane elétrica tome nosso acesso à rede, ela ainda estará... Mesmo que nossos computadores sejam destruídos e nosso material publicado seja perdido, a rede ainda estará. A Internet veio para ficar, e, de fato, talvez possamos nós concluir que assim como o Novo Mundo ela não foi inventada, foi descoberta... Tudo mera questão de tempo.

Quem aqui não se lembra dos serviços telefônicos que propunham comunidades de amigos para bate-papo? Esse tipo de serviço cresce com uma necessidade potencializando-o. Essa necessidade foi apenas englobada pela internet. O espaço Internet é um fractal eterno, em desesperada e desenfreada expansão. Nós, simples navegadores destes mares revoltos e tempestuosos, apenas podemos seguir a maré, pois não há como sair dela. Estar fora da Internet hoje, para quem nela já navegou, é como estar fora de um mundo com o qual já se sonhou.

Mutilada por serviços de pornografia e ilegalidades, por situações pouco agradáveis e por mentiras calamitosas, a Internet ainda resiste e ganha cada vez mais espaço, e se torna cada vez mais espaçosa. O que a mantém de pé é a busca humana por conhecimento e tecnologia, a mesma busca que se fortaleceu com o uso do fogo, com a fundição, com o trato da terra, com a invenção do antibiótico, do avião, das vacinas, bombas nucleares, da música, da poesia... E esta busca não pode ser parada.

Essa busca alimenta o avanço tecnológico, que, em um chip do tamanho de uma moeda, pode armazenar milhares de vezes mais informação que as maiores bibliotecas da antiquidade. Isto é: conhecimento. Conhecimento para todos que saibam buscá-lo. E quando se trata da perpetuação do que nos mantém vivos, não vale a pena pensar nas mecanicidades do meio, e sim nas consequências de seu fim. Na Rede pode-se encontrar desde receitas de doces até manuais de terrorismo do século XXI. Eis aí um espaço da consciência e da fisicidade, um espaço que pode ser vigiado, mas não pode ser impedido. E se o que se quisesse vigiar pudesse-se impedir não haveriam sido derrubados dois edifícios há uns anos atrás.

Alvorecer de TEMPUSFUGERE

Bem...
Meu grande amigo Fábio retomou o vasto propósito do TempusFugere da melhor maneira possível imaginada no ato da criação deste espaço: EXTREMADA.

Todos os pontos levantados nas colocações do meu amigo são valiosíssimos para a discussão que tem como palco muito mais que ambientes virtuais e reais, mas sim, os momentos de encontro entre os homens. Tal discussão se assemelha com os pilares de uma ponte equilibrada em arcos: grandes vãos terminam em uma imensa coluna, que antece novos vãos. Entendamos tais vãos como os milésimos de segundo que fomentam uma invenção ou os milênios que consolidam um império... As colunas são nada mais nada menos que os abrigos onde se encontram as idéias, os ideais e aqueles dispostos a pensá-los.

Cá, no TempusFugere, talvez sejamos uma partícula da areia usada em uma dessas colunas, e, embasados em grandes blocos (pensadores e outros movimentos) encontramos um jeito de discutir, com alguma lógica e convicção, aquilo que aqui se faz como pauta. Mas jamais estaremos nós, meros mortais, libertos das rajadas de ventos que cruzam estes vãos e trazem idéias novas e antigas, algumas vezes carregadas com alguma nova partícula bem-vinda ao nosso amálgama.

Antes de rebater, concordar, discordar, lastimar ou venerar as colocações do Fábio, assim como as futuras, dos demais colegas, resolvi fazer este texto, na tentativa de injetar adrenalina nessa nossa discussão, e nas vindouras.

E como diria o Grande Imperador Julius Caesar: ALEA JACTA EST!

Tentativa de Brainstorming sobre o espaço-internet (ou, somente, maluquices de um estudante de filosofia)

Bom, como um cara que não sabe nada de Internet, mas que quer pensar a respeito, digo que é esse espaço novo que vemos surgir aí o mais interessante sobre essa mudança toda – coisa bastante óbvia. Mas me parece interessante lembrar que essa não é a primeira vez que a história presencia assim um surgimento de um “novo espaço”. É certo que temos logo de princípio o espaço físico, o espaço dos corpos e tal, o espaço dos nossos olhos. Temos, seguindo a isso (mas não quero aqui me comprometer com nenhuma seqüência lógica ou histórica desses fatos, estou apenas dispondo os termos), o espaço da consciência, o espaço da memória, do sonho, da imaginação, da conversa com “deus” e do solilóquio. É certo que esse espaço da consciência se assemelha em certos pontos com o físico, mas há aí ainda muito a se pensar: as leis desses espaço, seus limites e etc. E vemos agora o surgimento desse outro espaço, o da internet – diria virtual? Não estou certo se seria esse o melhor nome, pois virtual em filosofia (não sei nada sobre Deleuze) se remete ao que é em potência, virtus = força; espaço cibernético, talvez, mas isso soa a filmes de ficção. Deixa isso pra lá.
Temos um novo espaço, e como se vê no que eu disse sobre os dois exemplos anteriores de espaço, o físico e o da consciência, um espaço pode ser entendido como, obviamente, um lugar onde há uma ação. Eu aperto as teclas desse teclado aqui e sigo as leis mecânicas nisso; penso e converso comigo mesmo, imagino a cara do Pedro lendo essa baboseira toda e até escuto a voz de deus, seguindo algumas leis aí, umas leis ainda difíceis de serem interpretadas; e eu estou prestes a publicar esse palavrório todo num blog, um lugar de encontro, uma esquinazinha dessa teia aí, e devo ser, nisso tudo, regido por outras leis, muito matemáticas mas também muito místicas (como um amigo engenheiro de computadores outro dia me disse), as leis desse outro espaço, a internet.
Mas não estaria tudo isso, todo os outros dois espaços de que eu tanto falo, todos os dois, a consciência e a internet, limitados de certa forma pelo outro espaço, o espaço mesmo, o físico, pois que se uma bala de revólver se entranhar nesses meus miolos esse meu dialogozinho comigo mesmo, e todas as cenas que eu poderia estar a imaginar desaparecerão instantaneamente – a não ser que queiramos imaginar que a minha consciência irá criar asinhas e voar ao céu para se juntar às outras consciências, inclusive a consciência barbudona de deus, nesse caso o entranhamento da bala de revólver não significaria nada além de uma mudança de espaço do espaço da consciência – mas pode isso, mudar de lugar o espaço? Polémico isso, só 10 mil anos de brigas a respeito da vida eterna: deixa isso pra lá. Penso eu, então, que o espaço que eu chamava de consciência se limita ao funcionamento ainda inexplicado do cérebro.
De forma análoga, se houver uma pane mundial nos sistema de distribuição elétrica, talvez isso limite também o funcionamento do cyber-espaço e teremos que dar adeus a esse espaço também.
Como surgiu esse cyber-espaço? E como surgiu o espaço da consciência. Tentando ver nisso tudo alguma relação com a história, as causas do surgimento de tanto um desses espaços quanto do outro devem ter sido causas físicas, uma causa do espaço físico, pois tanto não se concebe o espaço cibernético antes dos computadores e toda a história de desenvolvimento deles, quanto também eu não imagino o espaço de uma consciência antes de haver cérebros e toda a história de evolução deles ( a não ser, de novo, que entremos com deus nessa equação, o que só complica a vida de todo mundo).
Estão, portanto, esses dois outros espaços limitados pelo espação. E é interessante tentar ver como, a partir do plano desse espaço físico se foi surgindo um novo espaço, como se com uma verruma, uma furadeira se fosse furando o plano desse espaço sem que se pudesse vará-lo do “outro lado”, e esse “outro lado” seria o “outro espaço” (como aquela cena do Matrix quando o Neo coloca o dedo dentro do espelho, só que seu dedo não sai do outro lado do espelho, mas sai em outro espaço, a matrix.)
E falar de Matrix me lembra outra questão, muito corrente esses dias: a da interação cibernético-cerebral, como a que vemos no filme. Hoje em dia vemos membros mecânicos que são desenvolvidos a adaptarem-se maravilhosamente aos impulsos eletrônicos do cerébro. Assim, parece não tardar muito o tempo em que se poderá daqui de Campinas apertar a mão do Pedro aí em Belo Horizonte (ou mesmo nem precisaria ser a sua mão física, mas uma outra mão virtual sua, que transmitira ao tenebroso cérebro daquele ilustre itaunense o mesmo aperto). E depois serão cheiros, gostos, que mais? Não dizia aquele Judas do Matrix (Cypher?) que mesmo sabendo que o bife era uma série de informações de computador, ainda assim, valia a pena?
Isso tudo pra falar de outra coisa. Um dos sérios problemas dos espaço físico é sua fisicidade. Há o longe, o perto, o limite temporal, a necessidade de se construir prédios para alojar a crescente população, a necessidade de um espaço de trabalho, a necessidade de se colonizar a lua, marte e etc... – enfim, não parecem as propriedades elas mesmas do espaço físico uma constante ameaça, um constante obstáculo a um possível estabelecimento de uma intercomunicação-total da humanidade? Uma igualdade entre os homens?
A internet poderia, assim, agir como um efeito equalizador entre os homens: estão todos à mesma distância uns dos outros, têm o mesmo tamanho, enfim, são todos sujeitos cybernéticos... mas isso soa a baboseira. Quem seria tão marxista a imaginar que relações de poder iriam assim dissolver-se todas em direção a um “novo” comunismo? Mas se olharmos por outro lado e imaginarmos que as relações de poder encontrarão seus meios de manterem sua existência (um melhor computador, um melhor código cybernético) vemos assim que mesmo esse surginte espaço produz nele mesmo suas próprias negações, (coisa parecida com aquilo do Matrix, de o próprio sistema gerar sempre um Neo e um Smith à altura) de forma a manter as coisas, mesmo mudando-as de lugar, num patamar semelhante ao anterior.
O que também devemos dizer que aconteceu no caso do espaço-consciência, que poderia ter se tornado o livre império da subjetividade, mas vemo-nos ainda, e toda a história da humanidade é disso prova, em constantes embates contra e a favor do pecado e dos desejos, da vontade e da repressão, da religiosidade, da estética, da ciência, etc.
Ou seja, esse último ponto encerra uma questão antiga: há progresso? Não digo sobre essa ilusão de progresso tecnológico, mas a questão: saímos do lugar, ou giramos apenas em círculo, tendo a impressão de nos movermos, mas em verdade giramos sob um mesmo ponto. Se esses novos sistemas de espaços trazem consigo numa mão uma nova esperança de liberdade, noutra eles trazem novas possibilidades de domínio; novas leis e novos crimes; novos senhores e novos escravos...
Já disse coisas demais sem dizer nada, e mesmo assim, ainda há tanto a dizer! Mas se eu continuar nesse palavrório sem fim, que diálogo é que virá?
Acho que pensar sobre as leis que regem a internet deve ser como pensar sobre as leis da mecânica antes de newton, ou como pensar sobre o funcionamento psicológico antes de freud...Como eu não conheço nada de internet e tenho minha cabeça atormentada por caras como Hegel e Nietzsche ao mesmo tempo, que a tarefa de pensar sobre essa coisa, a internet, seja sua, Pedro, mais do que minha. Do contrário a internet estará perdida...