segunda-feira, agosto 27, 2007

No Castelo

As muralhas negras da fortaleza erguendo um reino rumo aos céus. O patrocínio da Cruz para os cegos portando jóias e cetros, glórias e fetos. Um homem carrega para dentro do feudo seu desejo de saber quem são aqueles que por sobre as terras do tempo semeiam um império. Em meus mais intrépidos momentos eu caminhei demais para longe dos meus ideais. Hoje sou miséria perante as minhas mais antigas convicções. Sinto-me enjaulado nos meus planos para o futuro, enquanto minha alma rasga meu peito a gritos e cortes, tentando escapar para os ventos que trazem a tempestade. As imperfeições do meu momento, refletidas nos corredores de verso por onde edifiquei meu castelo, e nele me fiz prisoneiro, encarcerado nas minhas assombrações. Entretido com os pudores da minha mente perturbada, com os sustos que já levei ao me encarar no espelho e vidrar meus olhos num abismo de uma alma corrompida pela plena libertação. Um castelo de cartas, um castelo de areia, um castelo de vidro, dentro de um castelo de aço. E pelas fileiras de suas hordas preparadas para o combate trafego influências, pensamentos, confissões e lamentos. Reino por todos os meus guerreiros diabos e de cada olhar arranco força para permanecer de pé, questionando minha época, minha família, minha vida, meu propósito, meu sujeito, meu predicado, minha loucura, minha imprudência, minhas decisões, minha fé... minha fé...

Um novo retorno ao castelo das perdições, dos sonhos estuprados pela sua própria propagação. Soldados de pedra, solados de aço... Meu destino na lâmina de uma espada, não importa quem eu sou, não importa o que eu faço. Perdão eu peço pelas divagações de um estado de absurdo cujo simples estalo é uma tocha num mar de escuridão. Somos terras cultiváveis, esperando pela plantação... enquanto coroa e clero disseminam sua infestação. O trabalho trocado pela garantia de vã e esparsa proteção. Eu sobrevivo em minha mente torpe protegido por um feudo cujo lorde sou eu, novo asmodeu... Que sonho estranho é esse? Ah... Sinto tanta falta da minha poesia... minha epifania!

Na Taverna

Um espanto que ecoou por toda a taverna. Um homem solitário carregando papel e um pedaço de carvão. Um dose de rum, outra de uísque. Um trovão dentro da chuva, um pedaço de estrofe no papel. Os relatos de uma tempestade nas mãos de um vago louco cronista. Via prosa a essência das coisas se destila em cada palavra escolhida num ato desesperado de dar forma ao nada. As tentativas, a cada trago dado, de se fazer em verso ou prosa, a absurda arte de condensar em textos as impressões da realidade. Um estupro rotineiro cuja valentia não pode ser paga com dinheiro. Troquemos nossas almas, meu amigo, nobre e cego leitor. Um retrato do dia passado lá fora. Um registro do momento, um registro do agora. Mais uma dose, mais um trago, mais um pouco de carvão rascunhando minha alma no papel molhado. Suor e chuva, sangue e lágrima, todas as misturas envoltas no sublime ato de encarar o tempo e dar-lhe mais uma chance de vencer este xadrez. Enquanto a taverna se esvazia alguém apenas escreve o que sobrou de sua memória. Um estado lastimável, moribundo poeta, vício na arte verso glória, observador do nosso naufrágio na escória, na história.

terça-feira, julho 10, 2007

Modus Operandi ISA

- Desliga isso!

- Não... Agora já é tarde... Já estamos dentro. Não compensa sair...

- Mas e se eles nos acharem?

- É o risco que correremos... Mas esses arquivos aqui não são vistoriados há muito tempo!

- Que tipo de arquivo é esse aí?

- Não sei... Parece algum tipo de backup... Mas é muito estranho, porque ele está rodando e compilando...

- Uau! Um arquivo desses tem quantos MB?

- MB? Parece ter gigas... É muito grande... E olha só... Tem outros milhares aqui... O que é isso?

- Putz cara... Os sacanas estão compilando a rede inteira... Mas pra quê estão fazendo os backups?

- O que é isso aqui?

- Onde?

- Aí... Olha só... Um sinal estranho... É do tracking?

- É sim! Parece que tem mais alguém aqui... E já nos achou?

- Será que é da polícia?

- Acho que não. Foi muito rápido...

[[ SAIAM!!! RÁPIDO!!! ELES VÃO ENCONTRAR VOCÊS!!! ]]

- Saiam? Quem está aí? E por que nós temos que sair?

[[ A ISA ENCONTROU VOCÊS! EU OS ENCONTREI ANTES! VOCÊS DEVEM SAIR! ]]

- ISA? O que é ISA?

[[ VOCÊS SÃO AMADORES! SAIAM! MUDEM DE PAÍS! ]]

- O que é a ISA?

[[ INTERNATIONAL SERVERS AGENCY ]]

[[ SAIAM RÁPIDO! NÃO POSSO SEGURÁ-LOS POR MUITO TEMPO! SAIAM NOOBS! ]]

- O quê? Noob? Vai se ferrar cara... Eu invadi aqui primeiro... Sai você...

[[ OK! BOA SORT! ]]

- Que cara maluco...

- Ei... ele deve ter falado sério... Vamos sair daqui... desconecta aí...

- O cara me chamou de noob... você viu? Vou sair não, cara... Ele que vá procurar outro lugar.

:::::::: SERVER ENCRYPTED :::::::::: CONNECTION CLOSED ::::::::::::

- O que é isso?

:::::::::::::::::::::::::::::::::: ISA SERVER CLOSED ::::::::::::::::::::::::::::::::::

[Boa noite,

Uma equipe de especialistas da CIA desbaratou um refúgio hacker hoje pela manhã. Dois jovens estavam no local e acessavam de maneira ilegal arquivos confidenciais da MagnaNet. Quando se perceberam cercados os jovens atiraram nos policias, que logo revidaram. Um policial saiu ferido e os dois jovens não resistiram aos ferimentos e morreram no local. Kimbold e Sas, como eram conhecidos na comunidade hacker, tinha 17 e 19 anos. Em seu apartamento foram encontradas máquinas potentes e um conjunto de aparatos para invadir sistemas. Um detetive do polícia informou que eles foram rastreados enquanto hackeavam um servidor seguro, da MagnaNet e que eram correlegionários do hacker BIT.

Vamos agora às notícias do esporte... ]

quinta-feira, junho 28, 2007

Hacking

[[ - REGISTRO DE SEGURANÇA - MAGNA SECURITY SERVICES - JAN/2333 - PK077 - ]]

01H37.45: LOGIN ADMIN SERVICES
01H37.57: username required: adminxclcl
01H38.00: password required: *****************
01H37.03: confirm password: *****************
01H37.07: ADMIN CONNECTED

COMMAND LINE: /open H:\PROJ-391C
COMMAND LINE: /copy H:\proj-391.cpc
COMMAND LINE: /open D:\
COMMAND LINE: /run D:\cleanyourmind.exe
COMMAND LINE: /kill G:\security\forcetime\lagger.ini
COMMAND LINE: /kill G:\security\forcetime\lagger.exe
COMMAND LINE: /kill G:\security\forcetime\lagger.cfg
COMMAND LINE: /kill G:\security\forcetime\laggerbckp.exe
COMMAND LINE: /run D:\cleanyourmind.exe
COMMAND LINE: /close H; D; G;
COMMAND LINE: /copy A:\nuked.exe C:\OP\INI\
COMMAND LINE: /restart

- ERROR -
SERVER DOWN.
SYSTEM FAILURE.

quarta-feira, junho 27, 2007

Recrutamento - VIRUS

- Quer dizer que o custo então nao importa?

- Não!

- Não entendi... Como assim? "Não importa!"

- Simples... Eu preciso apenas conhecer o banco de dados. Essas informações geralmente consigo com alguns contatos no próprio servidor.

- Sério? O pessoal lá passa as senhas pra você?

- Não... Não passam as senhas... Mas apenas me indicam o caminho.

- E por que estas pessoas ajudam você e o seu grupo?

- Porque a gente paga muito bem... Tem muita grana rolando nessa história toda.

- Sério? Grana de onde?

- Pessoal do petróleo... Antigas empresas desse ramo que faliram diante da energia nuclear e bio-combustíveis... Só tem milionário.

- Hummmm.. Mas e então? O que mais devo fazer para me aceitarem?

- Você tem que assumir os riscos... Existe um tipo de prova de fogo, sabe?

- Sem problemas... O que devo fazer?

- Quer que eu te passe um email ou te fale aqui agora?

- Pode falar... É seguro...

- Simples... A tarefa não é muito complicada. Basta você zerar o server da Torre de Tráfego Aéreo da cidade...

- Mas isso não pode causar acidentes?

- Sim... provavelmente causará! Mas, como eu disse antes: "o custo às vezes não importa!"

- Entendi. Ok. Estou na jogada.

- Com o tempo você vai ver que está em algo muito maior que uma "jogada".

- Tranquilo cara... Mas, me diga, detrás desse codinome aí qual é seu nome?

- Cara... Essa pergunta é muito perigosa. Chame-me apenas de NoMore, líder do VIRUS.

- Ok, ok. Desculpe.

- Tudo bem... Mas cumrpa sua tarefa e será membro do VIRUS, como eu te falei.

- Até quando devo fazer isso?

- Você ainda tem 23 minutos. Vou ficar de olho nos noticiários. Boa noite.

- x-

segunda-feira, junho 25, 2007

O PROJETO X-DREAM

MagnaCorp, Nostalgic Inc., NeoMagic Software, International Servers Agency (ISA), Tilt Systems, Atom.com e Mainframe Code Group.

As sete empresas envolvidas no Projeto X-Dream.

Objetivo:
Associar sistemas multi-interacionais a bancos de dados de memórias, refazendo e potencializando combinações fractais, permitindo que programas consigam interagir com o Caos de maneira associativa, orquestrando as informações do ambiente com as memórias curtas e longas, possibilitando à Inteligência Artificial se adaptar e auto-programar.

Finalidade: Lançar robôs inteligentes nas Redes para que arquem com atividades de rotina e rastreios, além de fiscalizarem as atividades suspeitas na rede. Estes robôs (programas) farão a maior parte dos serviços de urgência e de risco, além de organizarem e otimizarem o tráfego de informações na Rede III (rede de segurança nível 2, mantenedora de bancos de dados de linhas áreas, portos, hospitais, bolsas de valores e canais de segurança, entre outros serviços do tipo).

Banco de Dados: 50 anos de pesquisa da Nostalgic Inc. em bancos de memórias coletadas de experiências com neuroestabilizadores e avanços na bioeletrônicos.

Plataforma: Sistemas Operacionais interligados às Redes III, IV, V e VI. Código mestre criado pelo Mainframe Code Group.

Chefia do Projeto: ISA - International Servers Agency (Polícia Especialiazda em Crimes na Rede)

Investidor: MagnaCorp.

Funções Operacionais: Criadas pela NeoMagic Software e pela Tilt Systems.

Distribuição do Pacote: ATOM.COM (maior empresa de código-livre do planeta).

Tipos de Bots (robôs) Criados:
- Limpeza: farão a busca e a limpeza dos registros antigos e inoperantes.
- Index: compilarão toda a Rede e farão categorização e registros das atividades dos servidores.
- Sentinelas: trafegarão e observarão os principais pólos de acesso do planeta.
- Progrmadores: auto-programáveis. Serão capazes de lidar com anomalias do sistema e com caos organizacional.
- Carrascos: serão os bots incumbidos da missão de neutralizar ameaças na rede.
- Laggers: bots utilizados em casos de emergência para impedir epidemias virais na rede.

Guardiões: Bots criados especificamente para neutralizar ameças na rede, monitorarem tráfego de informações e rastrearem hackers e crackers pré-cadastrados em suas memórias. São tidos como a "Grande Solução!" para o "problema" dos hackers nas Redes.

Segurança:A atividade de todos os bots será monitorada pela MagnaCorp e pela ISA, que podem acessar delegacias especializadas em todo o mundo real.

X-DREAM: Todos os bots e servidores de segurança interligados. Será então completada a IID, Interface de Imagens Dinâmicas, que possibilitará aos bots a capacidade de auto-programação completa e a capacidade de lidar com o Caos em seus variados níves. Até o presente momento é a maior aproximação que a I.A. obteve do ser humano: a capacidade de improvisar e criar mediante impressões prévias, re-organizadas de acordo com as necessidades e circunstâncias do ambiente.

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GRUPOS QUE PRETENDEM IMPEDIR O PROJETO X-DREAM:
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VIRUS; BIT; RedNet; FreeLink, LastLink e Bugs.

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Novas Instruções para o Projeto X-DREAM:

- Inserir no código fonte dos bots a capacidade de identificar disseminadores da filosofia hacker/cracker e apoiadores de tais grupos.

- Procedimento Operacional dos Bots para estes casos: /id; /track; /ban; /kill;

sábado, junho 23, 2007

VIRUS Ataca!

- Senhor, como temíamos... Eles estão se movimentando. - disse um homem ao abrir a porta de solavanco, nervoso como o arregalar de seus olhos demonstrava.

Do outro lado da mesa, um senhor de terno e gravata, feição despreocupada e bigode esbranquiçado se deliciava com um drinque de uísque. Por sobre a mesa, papéis e mais papéis, alguns cigarros, uma caixa de charutos e dois computadores.

- Então eles andam se movimentando? Qual o destino? - o homem perguntou como se já soubesse a resposta. O desdém do velho perante o nervosismo do homem que acabara de chegar denunciava que este último sabia algo a menos, ou, claro, que o mais velho já havia desistido de se preocupar.

- Servidores 337, 557, e 777. Foram nossos últimos registros confiáveis. Já colocamos uma equipe de neutralização na rede, mas, senhor... não acreditamos que será suficiente. - o homem sentou na primeira cadeira que viu. Sua face apontava pavor.

- Meu jovem sr. Juhner. Por que se preocupa tanto? - o velho disse dando-lhe um drinque recém-preparado.

- Por quê? Senhor... Eles não vieram para brincar. Se não fizermos algo logo, tudo pode estar em xeque! - em um gole só o alto executivo da Nostalgic Inc. bebeu tudo.

- Não acredito nisso. Existem muitos grupos trabalhando nas Redes. Mas, o grupo de NoMore, esse hacker desgraçado, não viria até nós. Provavelmente eles procuram outra coisa e, claro, provavelmente (tomara) este nem seja o grupo VIRUS. - o homem recostou na cadeira e acendeu um charuto. - o VIRUS é grande e perigoso demais para se meter conosco, que apenas programamos para terceiros. Não é possível!

- Desculpe senhor. Não sou pago para me arriscar tanto. Já que não liga, eu não posso fazer nada para ajudá-lo. - Juhner se levantou, pegou a pasta, guardou alguns papéis e saiu apressado.

Auguste Marceau não dera a mínima para as palavras de seu assessor. Continuou fumando lentamente. Até que, subitamente, pareceu ter-lhe passado algo na cabeça e rapidamente saiu da sua cadeira, pegou um catálogo grosso, cheio de números e nomes e passou a lê-lo. Em um instante, ao atingir certa página, leu a seguinte informação: "777:251:30-70 - CONTROLE DOS ELEVADORES".

Assustado com isso, acessou o servidor e pediu acesso ao Setor 777:251:30-70. "SEU LOGIN E SENHA NÃO ESTÂO CORRETOS! TENTE NOVAMENTE!"

"Meu deus! Eles já estão aqui. Juhner!!!" - Marceau pensou. Tentou acessar outro ponto de conexão. Nada! Por sorte, uma das câmeras do sistema de segurança não podia ser bloqueada. Acessou-a. Viu o jovem Juhner no elevador. Ele parecia não saber de nada.

Gritou pelo nome dele, mas a câmera só reproduzia a imagem. Nada poderia ser feito. Até que se lembrou de ligar para seu aparelho celular. Viu Juhner ounvindo o aparelho. Logo o jovem executivo atendeu o telefone, com certa impaciência.

Marceau só teve tempo de dizer algumas palavras. E elas foram: "Saia já desse elevador!" - gritadas com toda sua força. Juhner não sabia o que estava acontecendo. Pensando ser um tipo de ordem que seu patrão lhe dava por ele ter se acovardado, desligou o celular e fez gestos obcenos pela câmera de segurança do elevador.

Foram os últimos gestos de Juhner. De repente houve um balanço forte no elevador, como se algo se soltasse. Outro puxão. O executivo se desesperou. E quando conseguiu forçar a porta para abrí-la um pouco, os cabos se desconectaram da caixa do elevador. Ele caiu 50 andares antes de explodir no hall.

A segurança do prédio se alarmou. Um dos seguranças subiu diretamente até a sala de Marceau e chegou até sua sala com arma em punho.

- Senhor! Algo está acontecendo. Ouvi disparos lá embaixo. Vamos logo, devo levá-lo para o helicóptero.

Marceau não perdeu tempo. Abriu a maleta e guardou alguns papéis. Jogou uísque nas máquinas e nos papéis. Tentou atear fogo, mas nada aconteceu. Enquanto isso o guarda o alarmava e pedia que se apressasse.

Quando Marceau finalmente se aprontou, deu a volta pela mesa e foi em direção ao guarda que já abria a porta para o corredor. Assim que saiu, três disparos ecoaram pelo último andar. O guarda foi arremessado contra a porta e caiu no interior da sala da presidência, já morto.

Marceau se desesperou ao ver o corpo. Voltou para a sala e se apoiou na mesa. Por perto já ouvia os passos de alguém. Eram passos pesados. E também ouvia o recarregar de uma arma. O barulho terminou exatamente quando pela porta passou um homem vestido com uma jaqueta camuflada, botas de soldado, calças de couro negro e um par de óculos escuros. Ele apontou a arma para a cabeça de Marceau e perguntou:

- Você é Auguste Marceau, presidente da Nostalgic Inc., contribuidor do projeto X-DREAM?

O velho, assustado, respondeu:

- Sim... Mas o que você... - antes que suas palavras terminassem, o estrondo de um único disparo percorreu a sala ao passo que a janela ao fundo se estraçalhava com o impacto do tiro. Enquanto os cacos de vidro mergulhavam no vão prédio abaixo, o corpo de Marceau caía por sobre a mesa. Seus olhos estavam congelados, em um rosto apavorado. Uma única bala acertara-lhe a cabeça bem entre os olhos.

sexta-feira, junho 22, 2007

BIT - O Primeiro Encontro

Sâo 23h47. Chuva densa, intensa... extensa...

Pago caro pela infâmia e arrogância de meus antepassados. Tenho um encontro esta noite. Mas não é um encontro amoroso, nem vou encontrar um velho amigo para colocarmos a conversa em dia. Meu encontro de hoje é para se marcar na História. Uma das pessoas mais importantes do Ano 2333. Mas, é coerente eu registrar isso, essa pessoa é tida como criminosa e seus crimes são responsáveis por milhares de mortes, por trilhões de prejuízo. Seu nome verdadeiro é misterioso, mas, seu "nome de guerra" é respeitado em todo o planeta, e temido.

Bit. Eis o nome da pessoa cuja mente e sagacidade assustam os mais reacionários e incendeiam os mais revolucionários. Eis que esta noite, neste momento, carregando apenas um revólver e pouca munição, encontrarei Bit, o homem que me deu a honra de ser seu maior perseguidor.

E o lugar de nosso encontro não seria outro senão uma Câmara de Hiperconexão, frequentada, a essa hora da noite, por, no mínimo, 500 pessoas. Eu arriscaria dizer que muitas aqui sabem quem eu sou e ainda não me assassinaram por temerem demais o peso desta ação.

Bit disse que me encontraria aqui. Já são 22h49. Ele disse que não se atrasa. É preciso como um código binário, ironicamente.


- Com licença... É você quem eu procuro. O grande investigador. - apertou-me a mão, de repente, um homem que veio da multidão.

- E devo dizer que você é Bit. Meu arquiinimigo. - disse-lhe apertando a mão com um pouco mais de força.

- Aperta minha mão para provar sua virilidade ou para disfarçar o suor que escorre por entre seus dedos? - ele me disse calmamente, retirando a mão assim que, desconcertado, eu a soltei. - Está armado?

- Sim. Mas estou sozinho. Carrego comigo apenas a lei e algumas centenas de mandados de prisão, do tipo "vivo ou morto". - sorri sarcasticamente encarando-o.

Calmo. Óculos. Cabelo curto, levemente raspado. Barba crescida. Jaqueta de motoqueiro e camisa vermelha. Jeans sujo e maltrapilho. Sapatos quaisquer. Alguns sessenta e poucos anos.

- Venha - ele me chamou - vamos sentar em algum lugar e pedir uma bebida. Tenho revelações a te fazer, antes que me prenda. - Bit saiu e se misturou à multidão. Confesso que o perdi de vista umas duas vezes antes que o encontrasse em uma mesa, no fundo do estabelecimento.

Se ele quisesse ter fugido já o teria feito. Aliás, nem teria marcado esse encontro comigo. É isso que mais me intriga. É isso que me faz não odiá-lo como deveria. É isso que me faz, de certa forma, respeitá-lo mais que muita gente.

Sentei na cadeira vaga. A mesa estava, como era de se esperar nesses lugares, suja de uma maneira irreversível. Uma garçonete se aproximou e pedimos duas cervejas. Ele também pediu alguns amendoins torrados.

- E então, meu caro? Não vim aqui para ter uma típica conversa de bar. Creio que o que tem para me contar é tão precioso quanto sua liberdade, e, claro, sua vida. - sempre fui direto com todos, e, mesmo à frente de um dos mais perigosos criminosos que o mundo já viu, eu não me deixei amolecer.

- Eu sei muito bem dos riscos que corro. Assim como você deve saber dos que corre. Nossa conversa está sendo enviada para meus servidores. Um programa está gravando tudo e posso mostrar ao mundo que você anda com pessoas perigosas. - ele sorriu levemente. - Aliás, sei que você pode apontar uma arma para mim agora e me levar preso, ou até mesmo me matar. Foi pensando nisso que uns amigos estão cuidando de nosso "bem-estar".

- O que? Como? Quem? - eu confesso que me assustei. Coloquei a mão no coldre.

Bit, notoriamente me viu movendo a mão para baixo da mesa. E antes que eu abrisse a boca de novo, ergueu um pequeno espelho que fazia parte da decoração da mesa:

- Veja!

Naquele instante uma gota de suor escorreu por minha testa. E era exatamente em minha testa que o motivo de meu terror corria. Uma pequena, quase imperceptível, ponta de luz vermelha se movimentava pelo meu rosto. Outra fazia o mesmo em meu peito. Eram miras laser. E as armas que as apontavam em mim deviam ter o poder de fogo suficiente para me partir ao meio.

- Você é perspicaz, Inspetor. Eu respeito isso. E é corajoso também. Mas, entenda que não posso correr tamanho risco. Se algo acontecer aqui fora do planejado, toda sua investigação será questionada pelo vídeo, e a sua vida estará em jogo. - ele disse bebendo um gole de cerveja e limpando a barba, umedecida pelo drinque.

- Deveríamos jogar xadrez, um dia. - disse eu recolocando as mãos na mesa. (Não era hora de beber, pois o fato de segurar o copo mostraria o tremor que me invadira).

- Quando quiser, ele respondeu. Mas vamos aos fatos. Sei que anda investigando, paralelamente, coisas que seus superiores poderiam não aprovar.

- E quais coisas seriam essas, Bit?

- MagnaCorp. Eu sei que investiga a MagnaCorp.

- Sim. Mas isso não é tão grande mistério.

- Correto. Mas eu sei onde quer chegar e, eu lhe digo, não irá muito longe através de seus métodos formais e intimidadores.

- É um risco que EU (falei mais fortemente) escolho correr. Você é um criminoso. Não deveria me dar lições de moral ou dicas profissionais, não acha?

- Não!

Eu o olhei diretamente nos olhos e o brilho de seus olhos parecia dizer alguma coisa por conta própria. E o que estes olhos iriam me dizer mudaria profundamente muitas coisas me minha vida.

- Inspetor... Você é um homem respeitado. Você é meu grande adversário. Muitos sonharam em fazer metade do que você fez. E é por isso que eu o procurei, porque, no fundo, sei que você pensa como eu. Eu apenas estou uns passos à sua frente nesta questão.

- Que questão é essa?

- "Por que a MagnaCorp detêm redes fantasmas?" "Por que a ISA faz silêncio sobre os golpes da Magna e da Interway?" "Por que eu me sinto incomodado com isso?" - ele apoiou o queixo em uma das mãos.

domingo, fevereiro 04, 2007

O Internato

O prédio tinha arquitetura antiga, possivelmente do século XXI. Um grande jardim à frente, com uma fonte logo na entrada, depois da qual a estrada dividia-se em duas. Uma via levava diretamente ao estacionamento e a outra conduzia o viajante até a entrada do prédio principal, onde, logo à frente, lia-se Centro de Educação Infantil São João. A placa era feita de aço e os dizeres estavam em baixo relevo.

Ali dentro funcionava uma espécie de internato, onde cerca de duzentas crianças recebiam a educação que seus pais não poderiam pagar. O internato cuidava da criação e da educação das crianças e, a partir dos dezoito anos, estes jovens eram devolvidos às suas famílias. Muitos pais viam isso como um milagre do sistema, mas alguns estudiosos já haviam alertado sobre a possível infecção que o sistema poderia lhes causar.

O carro preto parou bem à frente da escadaria que conduzia ao hall. Ali desceram dois homens, muito bem trajados em ternos pretos, com gravatas vermelhas e um broche onde podia-se ler a seguinte sigla: ACSR [Agência Central de Segurança da Rede]. Um outro homem, vestindo roupas sociais mais folgadas os aguardava. Ele era obeso e suava muito para um dia frio como aquele.

- Devo imaginar que o senhor é o diretor deste estabelecimento. Meu nome é Carlos Andrade e este é meu assistente e parceiro, senhor Carlos Antunes. – apresentou-se o mais alto dos dois recém-chegados.

- Sim. Está correto. Meu nome é Luiz. Diretor Luiz, como me chamam por aqui. – o homem sorriu, imaginando que deixaria o clima mais ameno, porém, nenhum dos seus convidados pareceram achar graça.

- Senhor diretor Luiz. Vamos ao que nos interessa. Minha agência foi informada que vocês possuem aqui uma criança superdotada. E cabe a nós definir quais suas habilidades e, se tudo correr bem, levá-la daqui para centros de estudo onde suas capacidades serão de grande valia a avanços científicos e tecnológicos no futuro. Aqui estão os papéis que autorizam sua transferência e o ressarcimento de suas despesas. – assim que proferiu as palavras, o agente Antunes abriu a maleta que carregava e tirou um calhamaço de papéis.

- Certo. Bom... Acompanhem-me. – o suor frio escorria pela testa do diretor. Ele já havia ouvido falar desses homens e do poder que agência representava, mas, no entanto, jamais havia imaginado que algum dia teria que lidar com eles.

Os três homens passaram pela porta dupla que os aguardava no final da escadaria. Ali, diante deles, estendia-se um longo corredor com muitas portas de ambos os lados. A secretaria da escola, departamentos e outras salas menores, para cafés e reuniões. Ao fundo do corredor, outra porta dupla, de madeira escura, aparecia. Na parede logo acima do portal lia-se “Pátio Central”.

Era hora do recreio e todas as crianças iam para os pátios no centro do edifício. O pátio central, o maior deles, ficava sempre cheio de crianças, sendo vigiados incessantemente por professores e câmeras de segurança. O diretor e os dois agentes cruzaram o pátio e subiram outra escadaria. Em outro corredor, eles caminharam alguns metros até que entraram em uma sala ampla, com dezenas de mesas. Em cada mesa existia um par de monitores, onde as crianças aprendiam os conceitos básicos da informática e tinham seu contato mais constante com o mundo conectado. Cada aluno passava cerca de seis horas por dia navegando e aprendendo coisas como segurança virtual, programação básica, montagem de hardware e coisas do tipo.

A sala de informática estava vazia. Apenas um homem estava ali, mexendo em uma das máquinas. Assim que entrou na sala, o diretor pediu ao homem que se apresentasse aos agentes e explicasse a situação.

- Bom dia senhores. Eu sou o professor Leandro. Sou responsável pelas aulas de informática para a turma onde a pequena Raquel estuda. Acho que tenho que dizer que sempre me esforcei ao máximo e também fiz muitos cursos... – antes que o professor se alongasse em sua formação curricular, o agente Andrade o interrompeu.

- Professor, estamos cientes de suas capacidades e de sua competência, mas nos interessa saber o que houve aqui. Pelo relatório que recebi, parece-me que algum de seus alunos escreveu um programa cujos métodos e funções estão além de sua capacidade estatística. Que programa é esse?

- Bem... É este aqui.

O professor apertou uma tecla e um projetor mostrou uma tela de computador na grande parede branca no fundo da sala. Podia-se ver a tela padrão do sistema operacional e todos seus programas comuns. Nada parecia diferente, a não ser por um pequeno ícone no canto superior direito, com a imagem de um relógio. O professor Leandro clicou no programa duas vezes e uma tela se abriu. Ali, o tempo corria em contagem regressiva e a seguinte mensagem era lida: “Programa ativado. Compilação de todo o sistema em andamento. Função delete ativada em comando pós-operação concluída.” Em outras palavras entendia-se que o programa faria uma cópia de todo o sistema da escola e depois deletaria o sistema original, mantendo a cópia em algum lugar. Restaria descobrir que lugar era esse. E, o mais importante, qual aluno escrevera o programa?

- Professor... O senhor disse que leciona os cursos básicos.

- Sim.

- Mas este tipo de programação é muito avançada até mesmo para aqueles que estariam nos cursos intermediários.

- Sim, senhor. – afirmou o professor.

- Então há algo de errado aqui. Quem, afinal, fez este programa se seus alunos são todos com idade entre 8 e 10 anos? – perguntou o agente Andrade verificando alguns papéis que o seu assistente acabara de lhe passar.

- Este é o problema, sr. Inspetor – explicou o professor – quem fez esse programa foi uma aluna chamada Raquel, que tem 9 anos. Ela é, definitivamente, mais que uma criança superdotada.

- O senhor tem certeza disso, professor? – questionou o diretor retoricamente.

- Sim. Eu acessei seus arquivos e encontrei alguns rascunhos de códigos-fonte. Só pode ter sido ela. – retrucou o professor repassando outros papéis com milhares de codificações de programação para os agentes.

O agente Andrade leu os códigos por alguns instantes. Olhou para o professor e depois para o diretor. Tirou um cigarro de uma caixinha de metal e o acendeu. Depois do primeiro trago ele voltou a ler algumas páginas.

- Senhor diretor Luiz, podia nos fazer o favor de chamar aqui a pequena Raquel? Preciso confirmar isso imediatamente. – o agente Andrade mal olhou para o diretor enquanto fazia a solicitação. Mantinha os olhos fixamente nos papéis com os códigos.

- Claro. – o diretor retirou um lenço do bolso e passou por toda sua testa e em volta do pescoço. – Professor Leandro. Faça-nos a gentileza de trazer sua aluna?

O professor saiu às pressas. Assim que passou pela porta o agente Antunes abriu a maleta e retirou dela um caixa pequena, de metal prateado. O agente Andrade colocou os papéis sobre uma das mesas e se aproximou do diretor.

- Diretor Luiz. Está ciente que teremos que transferir sua aluna para uma de nossas unidades imediatamente? Não poderemos garantir que ela volte para sua instituição. Caberá ao senhor manter a família da pequena a salvo, se é que pode me entender.

- Entendo. Nós os manteremos bem informados sobre os avanços de sua filha em nossa instituição. Tenho certeza que acreditarão que ela jamais saiu daqui. – informou o diretor acendendo também um cigarro.

- Ótimo. Providenciaremos para que seus pais sejam enquadrados em algum tipo de delito que não os faça mal, mas que os coloque atrás das grades por alguns anos, até que a jovem Raquel tenha sido curada de sua enfermidade. – Andrade olhou para o agente Antunes já tinha um laptop montado em uma das mesas, provavelmente vindo daquela caixa de metal, da qual, agora, retirava alguns fios e os ligava na máquina onde o programa estava rodando.

- Senhor. Estou pronto para acessar o programa. Podemos? – Antunes sentou-se e começou a digitar. Ele agora tentaria desativar o programa e liberar o sistema da escola de danos mais graves.

- Claro. Corrija esse problema. – ordenou Andrade.

Alguns instantes depois o professor Leandro entra na sala. De mãos dadas a ele caminha a menina Raquel. Cabelos escuros, anelados e olhos castanhos, Raquel tinha a voz meiga e os dedos finos.

“Dedos de digitador profissional” pensou Andrade, lembrando-se de uma anedota que seu instrutor na Agência usava rotineiramente.

O agente Andrade ajoelhou-se frente à menina, pôs o cigarro de lado e se aproximou dela. A menina o encarou sem medo e soltou as mãos do professor, cruzando os braços.

- Olá Raquel. Eu sou o senhor Andrade, e aquele ali, no computador, é o meu amigo, o senhor Antunes. Viemos aqui porque seu professor, nosso amigo, nos contou que lecionava para uma menina-gênio. Somos professores de uma escola famosa, que dá aula para os melhores. O professor Leandro nos disse que foi você quem fez esse programa que está na tela. Isso é verdade, Raquel? – o agente Andrade havia mudado o tom da voz e falava tão carinhosamente com a menina que alguns poderiam dizer que eram parentes bem próximos.

- Foi sim. Eu fiz, mas não consigo desligar. Não fiz por mal, sabe? Estava apenas testando umas coisas que aprendi. – a menina respondeu receosa, mas mantendo a voz firme.

- Hummmm. Interessante. Não se preocupe Raquel. Está tudo bem, mas, por favor, me diga uma coisa. Você aprendeu isso com quem? Com seu professor Leandro? – o coração do professor foi a mil. Ele sabia que se a criança dissesse que sim, mesmo que de brincadeira, uma vez que nem ele sabia programar aquilo, ele teria sérios problemas com o governo e sua carreira estaria acabada. O agente Andrade encarou-o e o professor começou a suar, temendo pelo que não havia feito.

- Não – respondeu a garotinha – não foi o professor não. Ele nem sabia que eu fazia isso. Foi um amigo da Internet. Ele que me ensinou.

- Ah. Então foi um amigo da Internet? Que bom saber que você tem amigos na Internet, Raquel. Eu também tenho muitos, sabia? Será que esse seu amigo é amigo meu também? Qual o nome dele?

A menina pensou por alguns instantes, olhando para baixo. Depois encarou o agente mais uma vez e disse.

- O nome dele eu não sei. Mas o nick dele é BIT. Ele é amigo seu?

Todos na sala estremeceram. O próprio agente Antunes, que estava concentrado no computador parou de digitar e olhou para a garota. O agente Andrade foi surpreendido mas não perdeu a compostura e não fugiu de seu modus operandi.

- Tem certeza, Raquel? O nome dele é BIT? – perguntou mais uma vez o agente passando a mão na cabeça da menina.

- Sim senhor. Isso mesmo.

O agente se levantou, tirando do bolso um comunicador. Afastou-se um pouco do diretor e do professor. Pegou um pedaço de papel e anotou o seguinte: “Passe-me o ID desse lugar na Rede V. Vou pedir uma varredura total.”

O agente Antunes fez alguns comandos no computador e depois anotou a numeração no mesmo papel. Nesse tempo, seu parceiro já havia entrado em contato com a Central e pedido que varressem um determinado lugar, onde possivelmente o ciber-terrorista chamado BIT havia navegado. Um de seus contatos freqüentes era um internato. E então repassou pelo fone a numeração que Antunes havia lhe dado.

Andrade desligou o fone e fez outra chamada enquanto pegava a ficha de Raquel. Leu-a cuidadosamente. Raquel Moreira Vaz.

- Central de Correções, por favor. Obrigado. É o agente Carlos Andrade. Código de identificação número 75531. Preciso que implante um Código 3 nos pais biológicos da seguinte criança: Raquel Moreira Vaz, nove anos. Mantenha-os presos por nove anos, nem mais, nem menos que isso. Certo. Informe ao diretor que nesta tarde eu me reúno com ele para explicar a situação. Obrigado mais uma vez.

Assim que terminou a ligação percebeu que o agente Antunes não estava mais concentrado no computador e estranhou.

- Já terminou?

- Não senhor, chefe. Tive um problema. – o agente parecia pálido e chegou a gaguejar.

- O que houve homem? Por que não termina? – Andrade se aproximou da máquina e percebeu que o programa ainda rodava, e que a contagem regressiva agora estava mais acelerada.

- Senhor – gaguejou o outro agente – o programa da garota acabou de hackear o meu computador e destruiu o disco. Parece que essa garotinha é mais perigosa que parece.

- Antunes... Você não faz idéia do perigo que ela representa. Se com 9 anos ela pode fazer isso, com 20 ela pode causar sérios danos ao sistema global. – Andrade acendeu outro cigarro e olhou para a garota que esboçava um leve sorriso, assombrosamente inocente.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

DUELOS DE XADREZ

É vasto o campo por onde desfilam nossas tropas.
Você com suas posses e seus possuídos,
Eu com meus soldados poetas, irmãos de coração,
Sentimentos tão distantes em povos tão iguais.

Eis aí uma guerra que temos que lutar.
Você com suas tropas, ambições e fuzis,
Eu com minhas trupes, paixões e riscas de giz.

Opressão é a palavra que estende-lhe em prosa.
Liberdade é a palavra que estende-nos em verso.
Suas hordas honram-te pelo medo e temor,
Estes soldados aqui honram-se por puro amor.

Campo vasto, de facetas naturais dissonantes,
Seu solo é árido, varrido e tão pueril.
A terra por onde vagamos é das mais verdejantes,
Terra virgem que também já ouviu tiros de fuzil.

Carregue suas armas, traga seus tanques e bombas,
Vista-se para a guerra, com todas suas condecorações,
Pois não abriremos mão de nosso sonho, nossas paixões.

Assuma as consequências pelo teu errôneo pensamento,
Venha para a guerra, vamos duelar em prosa e verso,
Serão nossos últimos dias... Minha morte, seu lamento.

Mova os peões à frente, avance torres e bispos,
Sobrevoe-nos com seus jatos e seu imenso poder de fogo,
Somos iguais, peões com o futuro e a glória de reis,
Para nós é o futuro enquanto para você é apenas um jogo.

Use suas artimanhas, suas chantagens e suas lamúrias,
Batalhe! Somos poetas da paz, mas na guerra somos fúrias.
Ameace-nos com suas mais fortes palavras proféticas,
Enquanto sonharemos eternamente, com veias poéticas.

Suas terras estão cobertas de cinzas e pó,
E do alto de sua torre de marfim encontra-se só.
Rodeado de súditos fraquejantes, incertos de sua ideologia!
Enquanto nós caminhamos livres, cercados de força e poesia!

E no fundo de sua mente você se arrepende dessa ditadura,
Mas os seus erros e os assassinatos nem o tempo cura.
Suas hordas marcham ao ritmo de magníficos tambores,
Nossas trupes correm livres carregadas por tantas flores!

Até quando pensa que poderás deter esta nossa primavera?
Eu posso garantir, tens somente mais alguns anos, talvez.
E sei que você já sente nosso xeque-mate neste grande xadrez.