segunda-feira, agosto 27, 2007

Na Taverna

Um espanto que ecoou por toda a taverna. Um homem solitário carregando papel e um pedaço de carvão. Um dose de rum, outra de uísque. Um trovão dentro da chuva, um pedaço de estrofe no papel. Os relatos de uma tempestade nas mãos de um vago louco cronista. Via prosa a essência das coisas se destila em cada palavra escolhida num ato desesperado de dar forma ao nada. As tentativas, a cada trago dado, de se fazer em verso ou prosa, a absurda arte de condensar em textos as impressões da realidade. Um estupro rotineiro cuja valentia não pode ser paga com dinheiro. Troquemos nossas almas, meu amigo, nobre e cego leitor. Um retrato do dia passado lá fora. Um registro do momento, um registro do agora. Mais uma dose, mais um trago, mais um pouco de carvão rascunhando minha alma no papel molhado. Suor e chuva, sangue e lágrima, todas as misturas envoltas no sublime ato de encarar o tempo e dar-lhe mais uma chance de vencer este xadrez. Enquanto a taverna se esvazia alguém apenas escreve o que sobrou de sua memória. Um estado lastimável, moribundo poeta, vício na arte verso glória, observador do nosso naufrágio na escória, na história.

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