quarta-feira, março 29, 2006

Ano 2333.

Ano 2333.
Depois de sutis retrocessos no crescimento populacional o mundo adapta-se aos 8 bilhões que agora esbarram nas ruas. Houve reconfiguração geopolítica mundial. Grandes conglomerados econômicos tentaram no passado unir suas moedas e suas culturas... Um desastre!

A engenharia espacial começa a se aproximar de sonhos da conquista do espaço. Clones humanos são criados clandestinamente para abastecer o milionário mercado de órgãos e pesquisa biomédicas, voltadas, com certeza, para fins de guerra, e não de paz.

Doenças com rápido ciclo de contágio assustam e dizimam. Catástrofes naturais estão mais furiosas e recorrentes. Novas misturas químicas introduziram novos poderes às drogas e o narcotráfico está mais bem armado que os exércitos de muitas nações. Megacorporações atrelam seus interesses capitalistas ao destino de povos inteiros. O petróleo perdeu força para os biocombustíveis e para os novos métodos de geração de energia e para as baterias que mantêm os carros nas ruas e o mundo funcionando. A eletricidade é agora gerada, prioritariamente em grandes complexos nucleares. Protocolo de Kyoto? O que vem a ser isso?

Apesar do estado apocalíptico que, tomara, antecede o fim da selvageria do capitalismo, alguns grupos se organizaram e encontraram um espaço para manterem suas flâmulas altas, suas bandeiras e causas hasteadas e seus bastiões impenetráveis: a rede.

Tecnologia de informação há uns dois séculos atrás era coisa de gente rica ou arrojada. Hoje não passa de "mais um serviço oferecido para aproximar você de seus sonhos", como diria a MagnaNet, empresa do grupo Magna. Celulares tornaram-se chips acoplados ao ouvido, com extensões que podem ser facilmente acessadas em qualquer DPV, Dispostivo Plasma Visualizador, um aparelho que você leva no bolso ou usa perto de uma cabine de conexão. Uma espécie de tela que coloca você em contato com toda a rede. Com toques dos dedos você acessa o que quer na rede, vê noticiários, acompanha esportes e guerrilhas, além de acompanhar as cotações das cinco bolsas de valores restantes no planeta. Se tiver um pouco de tempo pode ainda participar de campeonatos de centenas de jogos, com jogadores de todo o mundo.

As ruas tornaram-se mais largas e acompanhadas por "corrimões" baixos, tudo para que os distraídos que estão conectados à rede não sejam atropelados. Todos os carros possuem sensores que desativam os aparelhos de conexão, para evitar acidentes. Fábricas e empreiteiras também investem milhões na compra dos sensores, chamados gentilmente de "chatos".

O acesso a tamanha tecnologia é gratuito. "Tudo para permitir que você se aproxime mais ainda dos seus sonhos." Você não gasta nada para usar ou se conectar às redes. Os anunciantes fecham parcerias com as empresas, e os pacotes e kits para acesso variam de acordo com a quantidade de publicidade que você está disposto a receber via mensagem, serviço multimídia e hiperconexão. Eu estou no pacote básico. Recebo 10 mensagens multimídia por dia, informando-me das novidades do mundo conectado e de artefatos antigos. Pelo menos hoje em dia você pode escolher a publicidade que vai incomodar você. As mensagens publicitárias agora respeitam o horário compreendido entre as 22h e as 06h. Bons sonhos!

As cidades estão mais altas. Na verdade por dois motivos básicos. Primeiro o nível do mar subiu em todo o planeta. Veneza, Rio de Janeiro, Nova Iorque, Roterdã... Todas semi-engolidas pelo mar cada vez mais quente. Segundo motivo é o fato de os prédios agora terem muitos e muitos andares. Muitos mesmo. Os carros aqui não voam, e parece que os Jetsons ainda estão longe daqui, mas, as distâncias estão menores... As CED, Câmaras de Entreternimento Dimensional, levam você a qualquer parte do mundo, por quanto tempo você quiser, desde que possa pagar a "viagem".

O terrorismo acabou. Grupos radicais hoje não mais prometem o céu para homens que coloquem explosivos no próprio corpo. Eles agora estão atuando em outro lugar, de maneira mais sutil e eficiente. Estão trabalhando no "mundo conectado". As redes não são mais brincadeira. Agora a guerra é declarada, e, em alguns casos, milhares e milhares de nós de conexão e servidores são desligados até que a situação seja controlada. Ameaças virtuais tornaram-se armas de guerra ideológica e política. Boatos ganham a dimensão do mundo e, até que se prove o contrário, ministros, chanceleres, premiers, presidentes, prefeitos, governadores já caíram. Por incrível que pareça, ninguém mais coloca um site que se preze na rede sem fazer seguro dele. Advinha quem é uma das maiores seguradoras do mundo conectado à Rede 1? MagnaNet Security Services, do grupo MagnaNet, da megacorporação Magna.

(continua)

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