segunda-feira, abril 03, 2006

Crônica: A Rede VI

-"Esta quinta-feira começa com o desligamento geral de 75% dos nós e servidores de conexão integrados à Rede VI. As autoridades informaram que tal desligamento se deve a uma ação de segurança para evitar a queda geral da Rede. Aparentemente, o criminoso virtual conhecido pelo apelido de Bit, membro da organização terrorista NFF, Net For Freedom, assumiu os ataques. O repórter..."

Outro dia tenso no ano 2333. Quando os ataques na rede acontecem o mundo corre risco de parar por um instante. Este "instante" pode ser bloqueio de vôos, erros em servidores bancários, roubo de informações codificadas, quedas nas bolsas de valores. Por sorte, as Redes V, VI e VII são destinadas exclusivamente ao tráfego de usuários e recursos voltados para o público em geral. Para a sorte das empresas claro... E azar dos usuários normais, que ainda lêem emails, conversam com familiares e navegam pelas Redes. Aliás, é a primeira vez que um grupo realmente organizado, como a NFF, ataca uma Rede de usuários comuns. E, por incrível que pareça, tal ataque deixou as autoridades realmente preocupadas.

Na sala principal de reuniões do edifício-fortaleza da MagnaCorp., o inspetor Maren aguarda um representante da corporação. Enquanto espera para solicitar acesso ao servidor da Rede VI, Maren se deslumbra com a fabulosa mesa de vidro escuro, e com seus 50 lugares. Ao lado de Maren, de pé atrás de sua cadeira, está o programador e inspetor Zraninsk. Uma porta no fundo da grande sala se abre. Um homem de baixa estatura e careca, usando um óculos de armação redonda e vestindo um jaleco de cientista se apresenta.

-"Boa tarde senhores. Gostaria de agradecer pela rapidez em antender nosso chamado. Falo em nome da MagnaNet. A partir de agora sou o único a responder suas perguntas. Espero que sua Agência tenha muitas perguntas, mas, de fato, antes de tudo, estou interessado em suas respostas. Meu nome é Godfred Moureau, diretor técnico da MagnaNet. Podemos começar..."

Maren e Zraninsk eram, talvez, os melhores agente em atividade da Agência de Repressão ao Ciberterrorismo, a ARC. Estavam ali, na verdade, não apenas porque um megacorporação os havia "convocado", mas também porque a ARC tinha especial interesse em ter acesso aos servidores da MagnaNet. Os ataques terroristas à corporação podiam ser atos espontâneos contra os grandes mantenedores do "sistema", mas, talvez pudessem ter um fundo de verdade. A MagnaNet apenas oferece o acesso à Rede VI, ou também o controla e vigia?

Algumas fontes haviam informado que a Rede VI era, para a MagnaCorp., um propriedade particular, e não uma concessão pública. Essas fontes, antes de revelarem as informações, pediram para entrar para o Programa de Proteção à Testemunha, de seus respectivos países. Informação controlada e orientada. Este crime está especificado como "crime contra a humanidade" na Constituição das Redes, de 2297. Sobravam denúncias, faltavam provas.

-"Sr. Moureau. Eu sou o inspetor Maren e este é meu parceiro, inspetor Zraninsk. As respostas que espera de nós talvez não satisfaçam sua expectativa. Bit, o terrorista confesso de tais ataques, não foi encontrado e as pistas que deixou foram metodicamente estudas por ele mesmo. Resumindo, ele planejou tudo com maestria e ainda estamos procurando brechas em seus passos. Mas, aproveitando o assunto, gostaria que confirmasse para mim a não existência de uma rede paralela à Rede VI. Uma tal Rede VI Beta." - os olhos de Moureau perderam o brilho que lhes conferia alguma autoridade. Talvez a direta de Maren o pegara desprevinido. Ele respirou fundo e tirou alguns papéis da pasta que seu assitente carregava.

-"Senhores. A MagnaNet mantém, de fato, uma Rede Beta para atividades de manutenção e segurança. A rede nada mais é que um backup da Rede VI. Um "mirror", se me compreendem. Mas não entendo o que isso tem de importante em relação aos prejuízos bilionários que a MagnaNet poderia ter sofrido com os ataques deste criminoso."

-"A verdade, Sr. Moureau, é que suspeitamos que ele tenha acesso à Rede Beta, pois, em nossos rastreamentos na Rede, os nós de onde surgiram os primeiros ataques são os mesmos atacados. Como isso pode funcionar? A Rede Beta é mantida ligada continuamente? Quem pode acessá-la? Quem tem acesso a o quê, sr. Moureau?"

Maren foi direto mais uma vez. Sua voz era alta e forte. Suas perguntas claras e objetivas. Ele conduzia a investigação de maneira a intimidar até mesmo quem prestava a queixa. Maren era perito nisso e, de fato, poucos se igualavam à sua habilidade de arrancar informações.

(continua)

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