Mergulhados no despropósito absoluto daquela situação pandemoníaca apenas queriam algumas respostas. E tarde demais compreenderiam que aquilo tudo, toda aquela majestade diante de seus olhos mortais, era apenas o começo... o breve começo do resto de suas vidas pueris...
sábado, março 15, 2008
Bastiões da Dúvida
Mergulhados no despropósito absoluto daquela situação pandemoníaca apenas queriam algumas respostas. E tarde demais compreenderiam que aquilo tudo, toda aquela majestade diante de seus olhos mortais, era apenas o começo... o breve começo do resto de suas vidas pueris...
segunda-feira, agosto 27, 2007
No Castelo
Um novo retorno ao castelo das perdições, dos sonhos estuprados pela sua própria propagação. Soldados de pedra, solados de aço... Meu destino na lâmina de uma espada, não importa quem eu sou, não importa o que eu faço. Perdão eu peço pelas divagações de um estado de absurdo cujo simples estalo é uma tocha num mar de escuridão. Somos terras cultiváveis, esperando pela plantação... enquanto coroa e clero disseminam sua infestação. O trabalho trocado pela garantia de vã e esparsa proteção. Eu sobrevivo em minha mente torpe protegido por um feudo cujo lorde sou eu, novo asmodeu... Que sonho estranho é esse? Ah... Sinto tanta falta da minha poesia... minha epifania!
Na Taverna
terça-feira, julho 10, 2007
Modus Operandi ISA
- Não... Agora já é tarde... Já estamos dentro. Não compensa sair...
- Mas e se eles nos acharem?
- É o risco que correremos... Mas esses arquivos aqui não são vistoriados há muito tempo!
- Que tipo de arquivo é esse aí?
- Não sei... Parece algum tipo de backup... Mas é muito estranho, porque ele está rodando e compilando...
- Uau! Um arquivo desses tem quantos MB?
- MB? Parece ter gigas... É muito grande... E olha só... Tem outros milhares aqui... O que é isso?
- Putz cara... Os sacanas estão compilando a rede inteira... Mas pra quê estão fazendo os backups?
- O que é isso aqui?
- Onde?
- Aí... Olha só... Um sinal estranho... É do tracking?
- É sim! Parece que tem mais alguém aqui... E já nos achou?
- Será que é da polícia?
- Acho que não. Foi muito rápido...
[[ SAIAM!!! RÁPIDO!!! ELES VÃO ENCONTRAR VOCÊS!!! ]]
- Saiam? Quem está aí? E por que nós temos que sair?
[[ A ISA ENCONTROU VOCÊS! EU OS ENCONTREI ANTES! VOCÊS DEVEM SAIR! ]]
- ISA? O que é ISA?
[[ VOCÊS SÃO AMADORES! SAIAM! MUDEM DE PAÍS! ]]
- O que é a ISA?
[[ INTERNATIONAL SERVERS AGENCY ]]
[[ SAIAM RÁPIDO! NÃO POSSO SEGURÁ-LOS POR MUITO TEMPO! SAIAM NOOBS! ]]
- O quê? Noob? Vai se ferrar cara... Eu invadi aqui primeiro... Sai você...
[[ OK! BOA SORT! ]]
- Que cara maluco...
- Ei... ele deve ter falado sério... Vamos sair daqui... desconecta aí...
- O cara me chamou de noob... você viu? Vou sair não, cara... Ele que vá procurar outro lugar.
:::::::: SERVER ENCRYPTED :::::::::: CONNECTION CLOSED ::::::::::::
- O que é isso?
:::::::::::::::::::::::::::::::::: ISA SERVER CLOSED ::::::::::::::::::::::::::::::::::
[Boa noite,
Uma equipe de especialistas da CIA desbaratou um refúgio hacker hoje pela manhã. Dois jovens estavam no local e acessavam de maneira ilegal arquivos confidenciais da MagnaNet. Quando se perceberam cercados os jovens atiraram nos policias, que logo revidaram. Um policial saiu ferido e os dois jovens não resistiram aos ferimentos e morreram no local. Kimbold e Sas, como eram conhecidos na comunidade hacker, tinha 17 e 19 anos. Em seu apartamento foram encontradas máquinas potentes e um conjunto de aparatos para invadir sistemas. Um detetive do polícia informou que eles foram rastreados enquanto hackeavam um servidor seguro, da MagnaNet e que eram correlegionários do hacker BIT.
Vamos agora às notícias do esporte... ]
quinta-feira, junho 28, 2007
Hacking
01H37.45: LOGIN ADMIN SERVICES
01H37.57: username required: adminxclcl
01H38.00: password required: *****************
01H37.03: confirm password: *****************
01H37.07: ADMIN CONNECTED
COMMAND LINE: /open H:\PROJ-391C
COMMAND LINE: /copy H:\proj-391.cpc
COMMAND LINE: /open D:\
COMMAND LINE: /run D:\cleanyourmind.exe
COMMAND LINE: /kill G:\security\forcetime\lagger.ini
COMMAND LINE: /kill G:\security\forcetime\lagger.exe
COMMAND LINE: /kill G:\security\forcetime\lagger.cfg
COMMAND LINE: /kill G:\security\forcetime\laggerbckp.exe
COMMAND LINE: /run D:\cleanyourmind.exe
COMMAND LINE: /close H; D; G;
COMMAND LINE: /copy A:\nuked.exe C:\OP\INI\
COMMAND LINE: /restart
- ERROR -
SERVER DOWN.
SYSTEM FAILURE.
quarta-feira, junho 27, 2007
Recrutamento - VIRUS
- Não!
- Não entendi... Como assim? "Não importa!"
- Simples... Eu preciso apenas conhecer o banco de dados. Essas informações geralmente consigo com alguns contatos no próprio servidor.
- Sério? O pessoal lá passa as senhas pra você?
- Não... Não passam as senhas... Mas apenas me indicam o caminho.
- E por que estas pessoas ajudam você e o seu grupo?
- Porque a gente paga muito bem... Tem muita grana rolando nessa história toda.
- Sério? Grana de onde?
- Pessoal do petróleo... Antigas empresas desse ramo que faliram diante da energia nuclear e bio-combustíveis... Só tem milionário.
- Hummmm.. Mas e então? O que mais devo fazer para me aceitarem?
- Você tem que assumir os riscos... Existe um tipo de prova de fogo, sabe?
- Sem problemas... O que devo fazer?
- Quer que eu te passe um email ou te fale aqui agora?
- Pode falar... É seguro...
- Simples... A tarefa não é muito complicada. Basta você zerar o server da Torre de Tráfego Aéreo da cidade...
- Mas isso não pode causar acidentes?
- Sim... provavelmente causará! Mas, como eu disse antes: "o custo às vezes não importa!"
- Entendi. Ok. Estou na jogada.
- Com o tempo você vai ver que está em algo muito maior que uma "jogada".
- Tranquilo cara... Mas, me diga, detrás desse codinome aí qual é seu nome?
- Cara... Essa pergunta é muito perigosa. Chame-me apenas de NoMore, líder do VIRUS.
- Ok, ok. Desculpe.
- Tudo bem... Mas cumrpa sua tarefa e será membro do VIRUS, como eu te falei.
- Até quando devo fazer isso?
- Você ainda tem 23 minutos. Vou ficar de olho nos noticiários. Boa noite.
- x-
segunda-feira, junho 25, 2007
O PROJETO X-DREAM
As sete empresas envolvidas no Projeto X-Dream.
Objetivo: Associar sistemas multi-interacionais a bancos de dados de memórias, refazendo e potencializando combinações fractais, permitindo que programas consigam interagir com o Caos de maneira associativa, orquestrando as informações do ambiente com as memórias curtas e longas, possibilitando à Inteligência Artificial se adaptar e auto-programar.
Finalidade: Lançar robôs inteligentes nas Redes para que arquem com atividades de rotina e rastreios, além de fiscalizarem as atividades suspeitas na rede. Estes robôs (programas) farão a maior parte dos serviços de urgência e de risco, além de organizarem e otimizarem o tráfego de informações na Rede III (rede de segurança nível 2, mantenedora de bancos de dados de linhas áreas, portos, hospitais, bolsas de valores e canais de segurança, entre outros serviços do tipo).
Banco de Dados: 50 anos de pesquisa da Nostalgic Inc. em bancos de memórias coletadas de experiências com neuroestabilizadores e avanços na bioeletrônicos.
Plataforma: Sistemas Operacionais interligados às Redes III, IV, V e VI. Código mestre criado pelo Mainframe Code Group.
Chefia do Projeto: ISA - International Servers Agency (Polícia Especialiazda em Crimes na Rede)
Investidor: MagnaCorp.
Funções Operacionais: Criadas pela NeoMagic Software e pela Tilt Systems.
Distribuição do Pacote: ATOM.COM (maior empresa de código-livre do planeta).
Tipos de Bots (robôs) Criados:
- Limpeza: farão a busca e a limpeza dos registros antigos e inoperantes.
- Index: compilarão toda a Rede e farão categorização e registros das atividades dos servidores.
- Sentinelas: trafegarão e observarão os principais pólos de acesso do planeta.
- Progrmadores: auto-programáveis. Serão capazes de lidar com anomalias do sistema e com caos organizacional.
- Carrascos: serão os bots incumbidos da missão de neutralizar ameaças na rede.
- Laggers: bots utilizados em casos de emergência para impedir epidemias virais na rede.
Guardiões: Bots criados especificamente para neutralizar ameças na rede, monitorarem tráfego de informações e rastrearem hackers e crackers pré-cadastrados em suas memórias. São tidos como a "Grande Solução!" para o "problema" dos hackers nas Redes.
Segurança:A atividade de todos os bots será monitorada pela MagnaCorp e pela ISA, que podem acessar delegacias especializadas em todo o mundo real.
X-DREAM: Todos os bots e servidores de segurança interligados. Será então completada a IID, Interface de Imagens Dinâmicas, que possibilitará aos bots a capacidade de auto-programação completa e a capacidade de lidar com o Caos em seus variados níves. Até o presente momento é a maior aproximação que a I.A. obteve do ser humano: a capacidade de improvisar e criar mediante impressões prévias, re-organizadas de acordo com as necessidades e circunstâncias do ambiente.
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GRUPOS QUE PRETENDEM IMPEDIR O PROJETO X-DREAM:
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VIRUS; BIT; RedNet; FreeLink, LastLink e Bugs.
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Novas Instruções para o Projeto X-DREAM:
- Inserir no código fonte dos bots a capacidade de identificar disseminadores da filosofia hacker/cracker e apoiadores de tais grupos.
- Procedimento Operacional dos Bots para estes casos: /id; /track; /ban; /kill;
sábado, junho 23, 2007
VIRUS Ataca!
Do outro lado da mesa, um senhor de terno e gravata, feição despreocupada e bigode esbranquiçado se deliciava com um drinque de uísque. Por sobre a mesa, papéis e mais papéis, alguns cigarros, uma caixa de charutos e dois computadores.
- Então eles andam se movimentando? Qual o destino? - o homem perguntou como se já soubesse a resposta. O desdém do velho perante o nervosismo do homem que acabara de chegar denunciava que este último sabia algo a menos, ou, claro, que o mais velho já havia desistido de se preocupar.
- Servidores 337, 557, e 777. Foram nossos últimos registros confiáveis. Já colocamos uma equipe de neutralização na rede, mas, senhor... não acreditamos que será suficiente. - o homem sentou na primeira cadeira que viu. Sua face apontava pavor.
- Meu jovem sr. Juhner. Por que se preocupa tanto? - o velho disse dando-lhe um drinque recém-preparado.
- Por quê? Senhor... Eles não vieram para brincar. Se não fizermos algo logo, tudo pode estar em xeque! - em um gole só o alto executivo da Nostalgic Inc. bebeu tudo.
- Não acredito nisso. Existem muitos grupos trabalhando nas Redes. Mas, o grupo de NoMore, esse hacker desgraçado, não viria até nós. Provavelmente eles procuram outra coisa e, claro, provavelmente (tomara) este nem seja o grupo VIRUS. - o homem recostou na cadeira e acendeu um charuto. - o VIRUS é grande e perigoso demais para se meter conosco, que apenas programamos para terceiros. Não é possível!
- Desculpe senhor. Não sou pago para me arriscar tanto. Já que não liga, eu não posso fazer nada para ajudá-lo. - Juhner se levantou, pegou a pasta, guardou alguns papéis e saiu apressado.
Auguste Marceau não dera a mínima para as palavras de seu assessor. Continuou fumando lentamente. Até que, subitamente, pareceu ter-lhe passado algo na cabeça e rapidamente saiu da sua cadeira, pegou um catálogo grosso, cheio de números e nomes e passou a lê-lo. Em um instante, ao atingir certa página, leu a seguinte informação: "777:251:30-70 - CONTROLE DOS ELEVADORES".
Assustado com isso, acessou o servidor e pediu acesso ao Setor 777:251:30-70. "SEU LOGIN E SENHA NÃO ESTÂO CORRETOS! TENTE NOVAMENTE!"
"Meu deus! Eles já estão aqui. Juhner!!!" - Marceau pensou. Tentou acessar outro ponto de conexão. Nada! Por sorte, uma das câmeras do sistema de segurança não podia ser bloqueada. Acessou-a. Viu o jovem Juhner no elevador. Ele parecia não saber de nada.
Gritou pelo nome dele, mas a câmera só reproduzia a imagem. Nada poderia ser feito. Até que se lembrou de ligar para seu aparelho celular. Viu Juhner ounvindo o aparelho. Logo o jovem executivo atendeu o telefone, com certa impaciência.
Marceau só teve tempo de dizer algumas palavras. E elas foram: "Saia já desse elevador!" - gritadas com toda sua força. Juhner não sabia o que estava acontecendo. Pensando ser um tipo de ordem que seu patrão lhe dava por ele ter se acovardado, desligou o celular e fez gestos obcenos pela câmera de segurança do elevador.
Foram os últimos gestos de Juhner. De repente houve um balanço forte no elevador, como se algo se soltasse. Outro puxão. O executivo se desesperou. E quando conseguiu forçar a porta para abrí-la um pouco, os cabos se desconectaram da caixa do elevador. Ele caiu 50 andares antes de explodir no hall.
A segurança do prédio se alarmou. Um dos seguranças subiu diretamente até a sala de Marceau e chegou até sua sala com arma em punho.
- Senhor! Algo está acontecendo. Ouvi disparos lá embaixo. Vamos logo, devo levá-lo para o helicóptero.
Marceau não perdeu tempo. Abriu a maleta e guardou alguns papéis. Jogou uísque nas máquinas e nos papéis. Tentou atear fogo, mas nada aconteceu. Enquanto isso o guarda o alarmava e pedia que se apressasse.
Quando Marceau finalmente se aprontou, deu a volta pela mesa e foi em direção ao guarda que já abria a porta para o corredor. Assim que saiu, três disparos ecoaram pelo último andar. O guarda foi arremessado contra a porta e caiu no interior da sala da presidência, já morto.
Marceau se desesperou ao ver o corpo. Voltou para a sala e se apoiou na mesa. Por perto já ouvia os passos de alguém. Eram passos pesados. E também ouvia o recarregar de uma arma. O barulho terminou exatamente quando pela porta passou um homem vestido com uma jaqueta camuflada, botas de soldado, calças de couro negro e um par de óculos escuros. Ele apontou a arma para a cabeça de Marceau e perguntou:
- Você é Auguste Marceau, presidente da Nostalgic Inc., contribuidor do projeto X-DREAM?
O velho, assustado, respondeu:
- Sim... Mas o que você... - antes que suas palavras terminassem, o estrondo de um único disparo percorreu a sala ao passo que a janela ao fundo se estraçalhava com o impacto do tiro. Enquanto os cacos de vidro mergulhavam no vão prédio abaixo, o corpo de Marceau caía por sobre a mesa. Seus olhos estavam congelados, em um rosto apavorado. Uma única bala acertara-lhe a cabeça bem entre os olhos.
sexta-feira, junho 22, 2007
BIT - O Primeiro Encontro
Pago caro pela infâmia e arrogância de meus antepassados. Tenho um encontro esta noite. Mas não é um encontro amoroso, nem vou encontrar um velho amigo para colocarmos a conversa em dia. Meu encontro de hoje é para se marcar na História. Uma das pessoas mais importantes do Ano 2333. Mas, é coerente eu registrar isso, essa pessoa é tida como criminosa e seus crimes são responsáveis por milhares de mortes, por trilhões de prejuízo. Seu nome verdadeiro é misterioso, mas, seu "nome de guerra" é respeitado em todo o planeta, e temido.
Bit. Eis o nome da pessoa cuja mente e sagacidade assustam os mais reacionários e incendeiam os mais revolucionários. Eis que esta noite, neste momento, carregando apenas um revólver e pouca munição, encontrarei Bit, o homem que me deu a honra de ser seu maior perseguidor.
E o lugar de nosso encontro não seria outro senão uma Câmara de Hiperconexão, frequentada, a essa hora da noite, por, no mínimo, 500 pessoas. Eu arriscaria dizer que muitas aqui sabem quem eu sou e ainda não me assassinaram por temerem demais o peso desta ação.
Bit disse que me encontraria aqui. Já são 22h49. Ele disse que não se atrasa. É preciso como um código binário, ironicamente.
- Com licença... É você quem eu procuro. O grande investigador. - apertou-me a mão, de repente, um homem que veio da multidão.
- E devo dizer que você é Bit. Meu arquiinimigo. - disse-lhe apertando a mão com um pouco mais de força.
- Aperta minha mão para provar sua virilidade ou para disfarçar o suor que escorre por entre seus dedos? - ele me disse calmamente, retirando a mão assim que, desconcertado, eu a soltei. - Está armado?
- Sim. Mas estou sozinho. Carrego comigo apenas a lei e algumas centenas de mandados de prisão, do tipo "vivo ou morto". - sorri sarcasticamente encarando-o.
Calmo. Óculos. Cabelo curto, levemente raspado. Barba crescida. Jaqueta de motoqueiro e camisa vermelha. Jeans sujo e maltrapilho. Sapatos quaisquer. Alguns sessenta e poucos anos.
- Venha - ele me chamou - vamos sentar em algum lugar e pedir uma bebida. Tenho revelações a te fazer, antes que me prenda. - Bit saiu e se misturou à multidão. Confesso que o perdi de vista umas duas vezes antes que o encontrasse em uma mesa, no fundo do estabelecimento.
Se ele quisesse ter fugido já o teria feito. Aliás, nem teria marcado esse encontro comigo. É isso que mais me intriga. É isso que me faz não odiá-lo como deveria. É isso que me faz, de certa forma, respeitá-lo mais que muita gente.
Sentei na cadeira vaga. A mesa estava, como era de se esperar nesses lugares, suja de uma maneira irreversível. Uma garçonete se aproximou e pedimos duas cervejas. Ele também pediu alguns amendoins torrados.
- E então, meu caro? Não vim aqui para ter uma típica conversa de bar. Creio que o que tem para me contar é tão precioso quanto sua liberdade, e, claro, sua vida. - sempre fui direto com todos, e, mesmo à frente de um dos mais perigosos criminosos que o mundo já viu, eu não me deixei amolecer.
- Eu sei muito bem dos riscos que corro. Assim como você deve saber dos que corre. Nossa conversa está sendo enviada para meus servidores. Um programa está gravando tudo e posso mostrar ao mundo que você anda com pessoas perigosas. - ele sorriu levemente. - Aliás, sei que você pode apontar uma arma para mim agora e me levar preso, ou até mesmo me matar. Foi pensando nisso que uns amigos estão cuidando de nosso "bem-estar".
- O que? Como? Quem? - eu confesso que me assustei. Coloquei a mão no coldre.
Bit, notoriamente me viu movendo a mão para baixo da mesa. E antes que eu abrisse a boca de novo, ergueu um pequeno espelho que fazia parte da decoração da mesa:
- Veja!
Naquele instante uma gota de suor escorreu por minha testa. E era exatamente em minha testa que o motivo de meu terror corria. Uma pequena, quase imperceptível, ponta de luz vermelha se movimentava pelo meu rosto. Outra fazia o mesmo em meu peito. Eram miras laser. E as armas que as apontavam em mim deviam ter o poder de fogo suficiente para me partir ao meio.
- Você é perspicaz, Inspetor. Eu respeito isso. E é corajoso também. Mas, entenda que não posso correr tamanho risco. Se algo acontecer aqui fora do planejado, toda sua investigação será questionada pelo vídeo, e a sua vida estará em jogo. - ele disse bebendo um gole de cerveja e limpando a barba, umedecida pelo drinque.
- Deveríamos jogar xadrez, um dia. - disse eu recolocando as mãos na mesa. (Não era hora de beber, pois o fato de segurar o copo mostraria o tremor que me invadira).
- Quando quiser, ele respondeu. Mas vamos aos fatos. Sei que anda investigando, paralelamente, coisas que seus superiores poderiam não aprovar.
- E quais coisas seriam essas, Bit?
- MagnaCorp. Eu sei que investiga a MagnaCorp.
- Sim. Mas isso não é tão grande mistério.
- Correto. Mas eu sei onde quer chegar e, eu lhe digo, não irá muito longe através de seus métodos formais e intimidadores.
- É um risco que EU (falei mais fortemente) escolho correr. Você é um criminoso. Não deveria me dar lições de moral ou dicas profissionais, não acha?
- Não!
Eu o olhei diretamente nos olhos e o brilho de seus olhos parecia dizer alguma coisa por conta própria. E o que estes olhos iriam me dizer mudaria profundamente muitas coisas me minha vida.
- Inspetor... Você é um homem respeitado. Você é meu grande adversário. Muitos sonharam em fazer metade do que você fez. E é por isso que eu o procurei, porque, no fundo, sei que você pensa como eu. Eu apenas estou uns passos à sua frente nesta questão.
- Que questão é essa?
- "Por que a MagnaCorp detêm redes fantasmas?" "Por que a ISA faz silêncio sobre os golpes da Magna e da Interway?" "Por que eu me sinto incomodado com isso?" - ele apoiou o queixo em uma das mãos.
domingo, fevereiro 04, 2007
O Internato
O prédio tinha arquitetura antiga, possivelmente do século XXI. Um grande jardim à frente, com uma fonte logo na entrada, depois da qual a estrada dividia-se em duas. Uma via levava diretamente ao estacionamento e a outra conduzia o viajante até a entrada do prédio principal, onde, logo à frente, lia-se Centro de Educação Infantil São João. A placa era feita de aço e os dizeres estavam em baixo relevo.
Ali dentro funcionava uma espécie de internato, onde cerca de duzentas crianças recebiam a educação que seus pais não poderiam pagar. O internato cuidava da criação e da educação das crianças e, a partir dos dezoito anos, estes jovens eram devolvidos às suas famílias. Muitos pais viam isso como um milagre do sistema, mas alguns estudiosos já haviam alertado sobre a possível infecção que o sistema poderia lhes causar.
O carro preto parou bem à frente da escadaria que conduzia ao hall. Ali desceram dois homens, muito bem trajados em ternos pretos, com gravatas vermelhas e um broche onde podia-se ler a seguinte sigla: ACSR [Agência Central de Segurança da Rede]. Um outro homem, vestindo roupas sociais mais folgadas os aguardava. Ele era obeso e suava muito para um dia frio como aquele.
- Devo imaginar que o senhor é o diretor deste estabelecimento. Meu nome é Carlos Andrade e este é meu assistente e parceiro, senhor Carlos Antunes. – apresentou-se o mais alto dos dois recém-chegados.
- Sim. Está correto. Meu nome é Luiz. Diretor Luiz, como me chamam por aqui. – o homem sorriu, imaginando que deixaria o clima mais ameno, porém, nenhum dos seus convidados pareceram achar graça.
- Senhor diretor Luiz. Vamos ao que nos interessa. Minha agência foi informada que vocês possuem aqui uma criança superdotada. E cabe a nós definir quais suas habilidades e, se tudo correr bem, levá-la daqui para centros de estudo onde suas capacidades serão de grande valia a avanços científicos e tecnológicos no futuro. Aqui estão os papéis que autorizam sua transferência e o ressarcimento de suas despesas. – assim que proferiu as palavras, o agente Antunes abriu a maleta que carregava e tirou um calhamaço de papéis.
- Certo. Bom... Acompanhem-me. – o suor frio escorria pela testa do diretor. Ele já havia ouvido falar desses homens e do poder que agência representava, mas, no entanto, jamais havia imaginado que algum dia teria que lidar com eles.
Os três homens passaram pela porta dupla que os aguardava no final da escadaria. Ali, diante deles, estendia-se um longo corredor com muitas portas de ambos os lados. A secretaria da escola, departamentos e outras salas menores, para cafés e reuniões. Ao fundo do corredor, outra porta dupla, de madeira escura, aparecia. Na parede logo acima do portal lia-se “Pátio Central”.
Era hora do recreio e todas as crianças iam para os pátios no centro do edifício. O pátio central, o maior deles, ficava sempre cheio de crianças, sendo vigiados incessantemente por professores e câmeras de segurança. O diretor e os dois agentes cruzaram o pátio e subiram outra escadaria. Em outro corredor, eles caminharam alguns metros até que entraram em uma sala ampla, com dezenas de mesas. Em cada mesa existia um par de monitores, onde as crianças aprendiam os conceitos básicos da informática e tinham seu contato mais constante com o mundo conectado. Cada aluno passava cerca de seis horas por dia navegando e aprendendo coisas como segurança virtual, programação básica, montagem de hardware e coisas do tipo.
A sala de informática estava vazia. Apenas um homem estava ali, mexendo em uma das máquinas. Assim que entrou na sala, o diretor pediu ao homem que se apresentasse aos agentes e explicasse a situação.
- Bom dia senhores. Eu sou o professor Leandro. Sou responsável pelas aulas de informática para a turma onde a pequena Raquel estuda. Acho que tenho que dizer que sempre me esforcei ao máximo e também fiz muitos cursos... – antes que o professor se alongasse em sua formação curricular, o agente Andrade o interrompeu.
- Professor, estamos cientes de suas capacidades e de sua competência, mas nos interessa saber o que houve aqui. Pelo relatório que recebi, parece-me que algum de seus alunos escreveu um programa cujos métodos e funções estão além de sua capacidade estatística. Que programa é esse?
- Bem... É este aqui.
O professor apertou uma tecla e um projetor mostrou uma tela de computador na grande parede branca no fundo da sala. Podia-se ver a tela padrão do sistema operacional e todos seus programas comuns. Nada parecia diferente, a não ser por um pequeno ícone no canto superior direito, com a imagem de um relógio. O professor Leandro clicou no programa duas vezes e uma tela se abriu. Ali, o tempo corria em contagem regressiva e a seguinte mensagem era lida: “Programa ativado. Compilação de todo o sistema em andamento. Função delete ativada em comando pós-operação concluída.” Em outras palavras entendia-se que o programa faria uma cópia de todo o sistema da escola e depois deletaria o sistema original, mantendo a cópia em algum lugar. Restaria descobrir que lugar era esse. E, o mais importante, qual aluno escrevera o programa?
- Professor... O senhor disse que leciona os cursos básicos.
- Sim.
- Mas este tipo de programação é muito avançada até mesmo para aqueles que estariam nos cursos intermediários.
- Sim, senhor. – afirmou o professor.
- Então há algo de errado aqui. Quem, afinal, fez este programa se seus alunos são todos com idade entre 8 e 10 anos? – perguntou o agente Andrade verificando alguns papéis que o seu assistente acabara de lhe passar.
- Este é o problema, sr. Inspetor – explicou o professor – quem fez esse programa foi uma aluna chamada Raquel, que tem 9 anos. Ela é, definitivamente, mais que uma criança superdotada.
- O senhor tem certeza disso, professor? – questionou o diretor retoricamente.
- Sim. Eu acessei seus arquivos e encontrei alguns rascunhos de códigos-fonte. Só pode ter sido ela. – retrucou o professor repassando outros papéis com milhares de codificações de programação para os agentes.
O agente Andrade leu os códigos por alguns instantes. Olhou para o professor e depois para o diretor. Tirou um cigarro de uma caixinha de metal e o acendeu. Depois do primeiro trago ele voltou a ler algumas páginas.
- Senhor diretor Luiz, podia nos fazer o favor de chamar aqui a pequena Raquel? Preciso confirmar isso imediatamente. – o agente Andrade mal olhou para o diretor enquanto fazia a solicitação. Mantinha os olhos fixamente nos papéis com os códigos.
- Claro. – o diretor retirou um lenço do bolso e passou por toda sua testa e em volta do pescoço. – Professor Leandro. Faça-nos a gentileza de trazer sua aluna?
O professor saiu às pressas. Assim que passou pela porta o agente Antunes abriu a maleta e retirou dela um caixa pequena, de metal prateado. O agente Andrade colocou os papéis sobre uma das mesas e se aproximou do diretor.
- Diretor Luiz. Está ciente que teremos que transferir sua aluna para uma de nossas unidades imediatamente? Não poderemos garantir que ela volte para sua instituição. Caberá ao senhor manter a família da pequena a salvo, se é que pode me entender.
- Entendo. Nós os manteremos bem informados sobre os avanços de sua filha em nossa instituição. Tenho certeza que acreditarão que ela jamais saiu daqui. – informou o diretor acendendo também um cigarro.
- Ótimo. Providenciaremos para que seus pais sejam enquadrados em algum tipo de delito que não os faça mal, mas que os coloque atrás das grades por alguns anos, até que a jovem Raquel tenha sido curada de sua enfermidade. – Andrade olhou para o agente Antunes já tinha um laptop montado em uma das mesas, provavelmente vindo daquela caixa de metal, da qual, agora, retirava alguns fios e os ligava na máquina onde o programa estava rodando.
- Senhor. Estou pronto para acessar o programa. Podemos? – Antunes sentou-se e começou a digitar. Ele agora tentaria desativar o programa e liberar o sistema da escola de danos mais graves.
- Claro. Corrija esse problema. – ordenou Andrade.
Alguns instantes depois o professor Leandro entra na sala. De mãos dadas a ele caminha a menina Raquel. Cabelos escuros, anelados e olhos castanhos, Raquel tinha a voz meiga e os dedos finos.
“Dedos de digitador profissional” pensou Andrade, lembrando-se de uma anedota que seu instrutor na Agência usava rotineiramente.
O agente Andrade ajoelhou-se frente à menina, pôs o cigarro de lado e se aproximou dela. A menina o encarou sem medo e soltou as mãos do professor, cruzando os braços.
- Olá Raquel. Eu sou o senhor Andrade, e aquele ali, no computador, é o meu amigo, o senhor Antunes. Viemos aqui porque seu professor, nosso amigo, nos contou que lecionava para uma menina-gênio. Somos professores de uma escola famosa, que dá aula para os melhores. O professor Leandro nos disse que foi você quem fez esse programa que está na tela. Isso é verdade, Raquel? – o agente Andrade havia mudado o tom da voz e falava tão carinhosamente com a menina que alguns poderiam dizer que eram parentes bem próximos.
- Foi sim. Eu fiz, mas não consigo desligar. Não fiz por mal, sabe? Estava apenas testando umas coisas que aprendi. – a menina respondeu receosa, mas mantendo a voz firme.
- Hummmm. Interessante. Não se preocupe Raquel. Está tudo bem, mas, por favor, me diga uma coisa. Você aprendeu isso com quem? Com seu professor Leandro? – o coração do professor foi a mil. Ele sabia que se a criança dissesse que sim, mesmo que de brincadeira, uma vez que nem ele sabia programar aquilo, ele teria sérios problemas com o governo e sua carreira estaria acabada. O agente Andrade encarou-o e o professor começou a suar, temendo pelo que não havia feito.
- Não – respondeu a garotinha – não foi o professor não. Ele nem sabia que eu fazia isso. Foi um amigo da Internet. Ele que me ensinou.
- Ah. Então foi um amigo da Internet? Que bom saber que você tem amigos na Internet, Raquel. Eu também tenho muitos, sabia? Será que esse seu amigo é amigo meu também? Qual o nome dele?
A menina pensou por alguns instantes, olhando para baixo. Depois encarou o agente mais uma vez e disse.
- O nome dele eu não sei. Mas o nick dele é BIT. Ele é amigo seu?
Todos na sala estremeceram. O próprio agente Antunes, que estava concentrado no computador parou de digitar e olhou para a garota. O agente Andrade foi surpreendido mas não perdeu a compostura e não fugiu de seu modus operandi.
- Tem certeza, Raquel? O nome dele é BIT? – perguntou mais uma vez o agente passando a mão na cabeça da menina.
- Sim senhor. Isso mesmo.
O agente se levantou, tirando do bolso um comunicador. Afastou-se um pouco do diretor e do professor. Pegou um pedaço de papel e anotou o seguinte: “Passe-me o ID desse lugar na Rede V. Vou pedir uma varredura total.”
O agente Antunes fez alguns comandos no computador e depois anotou a numeração no mesmo papel. Nesse tempo, seu parceiro já havia entrado em contato com a Central e pedido que varressem um determinado lugar, onde possivelmente o ciber-terrorista chamado BIT havia navegado. Um de seus contatos freqüentes era um internato. E então repassou pelo fone a numeração que Antunes havia lhe dado.
Andrade desligou o fone e fez outra chamada enquanto pegava a ficha de Raquel. Leu-a cuidadosamente. Raquel Moreira Vaz.
- Central de Correções, por favor. Obrigado. É o agente Carlos Andrade. Código de identificação número 75531. Preciso que implante um Código 3 nos pais biológicos da seguinte criança: Raquel Moreira Vaz, nove anos. Mantenha-os presos por nove anos, nem mais, nem menos que isso. Certo. Informe ao diretor que nesta tarde eu me reúno com ele para explicar a situação. Obrigado mais uma vez.
Assim que terminou a ligação percebeu que o agente Antunes não estava mais concentrado no computador e estranhou.
- Já terminou?
- Não senhor, chefe. Tive um problema. – o agente parecia pálido e chegou a gaguejar.
- O que houve homem? Por que não termina? – Andrade se aproximou da máquina e percebeu que o programa ainda rodava, e que a contagem regressiva agora estava mais acelerada.
- Senhor – gaguejou o outro agente – o programa da garota acabou de hackear o meu computador e destruiu o disco. Parece que essa garotinha é mais perigosa que parece.
- Antunes... Você não faz idéia do perigo que ela representa. Se com 9 anos ela pode fazer isso, com 20 ela pode causar sérios danos ao sistema global. – Andrade acendeu outro cigarro e olhou para a garota que esboçava um leve sorriso, assombrosamente inocente.
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
DUELOS DE XADREZ
Você com suas posses e seus possuídos,
Eu com meus soldados poetas, irmãos de coração,
Sentimentos tão distantes em povos tão iguais.
Eis aí uma guerra que temos que lutar.
Você com suas tropas, ambições e fuzis,
Eu com minhas trupes, paixões e riscas de giz.
Opressão é a palavra que estende-lhe em prosa.
Liberdade é a palavra que estende-nos em verso.
Suas hordas honram-te pelo medo e temor,
Estes soldados aqui honram-se por puro amor.
Campo vasto, de facetas naturais dissonantes,
Seu solo é árido, varrido e tão pueril.
A terra por onde vagamos é das mais verdejantes,
Terra virgem que também já ouviu tiros de fuzil.
Carregue suas armas, traga seus tanques e bombas,
Vista-se para a guerra, com todas suas condecorações,
Pois não abriremos mão de nosso sonho, nossas paixões.
Assuma as consequências pelo teu errôneo pensamento,
Venha para a guerra, vamos duelar em prosa e verso,
Serão nossos últimos dias... Minha morte, seu lamento.
Mova os peões à frente, avance torres e bispos,
Sobrevoe-nos com seus jatos e seu imenso poder de fogo,
Somos iguais, peões com o futuro e a glória de reis,
Para nós é o futuro enquanto para você é apenas um jogo.
Use suas artimanhas, suas chantagens e suas lamúrias,
Batalhe! Somos poetas da paz, mas na guerra somos fúrias.
Ameace-nos com suas mais fortes palavras proféticas,
Enquanto sonharemos eternamente, com veias poéticas.
Suas terras estão cobertas de cinzas e pó,
E do alto de sua torre de marfim encontra-se só.
Rodeado de súditos fraquejantes, incertos de sua ideologia!
Enquanto nós caminhamos livres, cercados de força e poesia!
E no fundo de sua mente você se arrepende dessa ditadura,
Mas os seus erros e os assassinatos nem o tempo cura.
Suas hordas marcham ao ritmo de magníficos tambores,
Nossas trupes correm livres carregadas por tantas flores!
Até quando pensa que poderás deter esta nossa primavera?
Eu posso garantir, tens somente mais alguns anos, talvez.
E sei que você já sente nosso xeque-mate neste grande xadrez.
quarta-feira, agosto 02, 2006
Fugindo da questão do espaço, caindo na do Conhecimento!
Quem aqui não se lembra dos serviços telefônicos que propunham comunidades de amigos para bate-papo? Esse tipo de serviço cresce com uma necessidade potencializando-o. Essa necessidade foi apenas englobada pela internet. O espaço Internet é um fractal eterno, em desesperada e desenfreada expansão. Nós, simples navegadores destes mares revoltos e tempestuosos, apenas podemos seguir a maré, pois não há como sair dela. Estar fora da Internet hoje, para quem nela já navegou, é como estar fora de um mundo com o qual já se sonhou.
Mutilada por serviços de pornografia e ilegalidades, por situações pouco agradáveis e por mentiras calamitosas, a Internet ainda resiste e ganha cada vez mais espaço, e se torna cada vez mais espaçosa. O que a mantém de pé é a busca humana por conhecimento e tecnologia, a mesma busca que se fortaleceu com o uso do fogo, com a fundição, com o trato da terra, com a invenção do antibiótico, do avião, das vacinas, bombas nucleares, da música, da poesia... E esta busca não pode ser parada.
Essa busca alimenta o avanço tecnológico, que, em um chip do tamanho de uma moeda, pode armazenar milhares de vezes mais informação que as maiores bibliotecas da antiquidade. Isto é: conhecimento. Conhecimento para todos que saibam buscá-lo. E quando se trata da perpetuação do que nos mantém vivos, não vale a pena pensar nas mecanicidades do meio, e sim nas consequências de seu fim. Na Rede pode-se encontrar desde receitas de doces até manuais de terrorismo do século XXI. Eis aí um espaço da consciência e da fisicidade, um espaço que pode ser vigiado, mas não pode ser impedido. E se o que se quisesse vigiar pudesse-se impedir não haveriam sido derrubados dois edifícios há uns anos atrás.
Alvorecer de TEMPUSFUGERE
Meu grande amigo Fábio retomou o vasto propósito do TempusFugere da melhor maneira possível imaginada no ato da criação deste espaço: EXTREMADA.
Todos os pontos levantados nas colocações do meu amigo são valiosíssimos para a discussão que tem como palco muito mais que ambientes virtuais e reais, mas sim, os momentos de encontro entre os homens. Tal discussão se assemelha com os pilares de uma ponte equilibrada em arcos: grandes vãos terminam em uma imensa coluna, que antece novos vãos. Entendamos tais vãos como os milésimos de segundo que fomentam uma invenção ou os milênios que consolidam um império... As colunas são nada mais nada menos que os abrigos onde se encontram as idéias, os ideais e aqueles dispostos a pensá-los.
Cá, no TempusFugere, talvez sejamos uma partícula da areia usada em uma dessas colunas, e, embasados em grandes blocos (pensadores e outros movimentos) encontramos um jeito de discutir, com alguma lógica e convicção, aquilo que aqui se faz como pauta. Mas jamais estaremos nós, meros mortais, libertos das rajadas de ventos que cruzam estes vãos e trazem idéias novas e antigas, algumas vezes carregadas com alguma nova partícula bem-vinda ao nosso amálgama.
Antes de rebater, concordar, discordar, lastimar ou venerar as colocações do Fábio, assim como as futuras, dos demais colegas, resolvi fazer este texto, na tentativa de injetar adrenalina nessa nossa discussão, e nas vindouras.
E como diria o Grande Imperador Julius Caesar: ALEA JACTA EST!
Tentativa de Brainstorming sobre o espaço-internet (ou, somente, maluquices de um estudante de filosofia)
Temos um novo espaço, e como se vê no que eu disse sobre os dois exemplos anteriores de espaço, o físico e o da consciência, um espaço pode ser entendido como, obviamente, um lugar onde há uma ação. Eu aperto as teclas desse teclado aqui e sigo as leis mecânicas nisso; penso e converso comigo mesmo, imagino a cara do Pedro lendo essa baboseira toda e até escuto a voz de deus, seguindo algumas leis aí, umas leis ainda difíceis de serem interpretadas; e eu estou prestes a publicar esse palavrório todo num blog, um lugar de encontro, uma esquinazinha dessa teia aí, e devo ser, nisso tudo, regido por outras leis, muito matemáticas mas também muito místicas (como um amigo engenheiro de computadores outro dia me disse), as leis desse outro espaço, a internet.
Mas não estaria tudo isso, todo os outros dois espaços de que eu tanto falo, todos os dois, a consciência e a internet, limitados de certa forma pelo outro espaço, o espaço mesmo, o físico, pois que se uma bala de revólver se entranhar nesses meus miolos esse meu dialogozinho comigo mesmo, e todas as cenas que eu poderia estar a imaginar desaparecerão instantaneamente – a não ser que queiramos imaginar que a minha consciência irá criar asinhas e voar ao céu para se juntar às outras consciências, inclusive a consciência barbudona de deus, nesse caso o entranhamento da bala de revólver não significaria nada além de uma mudança de espaço do espaço da consciência – mas pode isso, mudar de lugar o espaço? Polémico isso, só 10 mil anos de brigas a respeito da vida eterna: deixa isso pra lá. Penso eu, então, que o espaço que eu chamava de consciência se limita ao funcionamento ainda inexplicado do cérebro.
De forma análoga, se houver uma pane mundial nos sistema de distribuição elétrica, talvez isso limite também o funcionamento do cyber-espaço e teremos que dar adeus a esse espaço também.
Como surgiu esse cyber-espaço? E como surgiu o espaço da consciência. Tentando ver nisso tudo alguma relação com a história, as causas do surgimento de tanto um desses espaços quanto do outro devem ter sido causas físicas, uma causa do espaço físico, pois tanto não se concebe o espaço cibernético antes dos computadores e toda a história de desenvolvimento deles, quanto também eu não imagino o espaço de uma consciência antes de haver cérebros e toda a história de evolução deles ( a não ser, de novo, que entremos com deus nessa equação, o que só complica a vida de todo mundo).
Estão, portanto, esses dois outros espaços limitados pelo espação. E é interessante tentar ver como, a partir do plano desse espaço físico se foi surgindo um novo espaço, como se com uma verruma, uma furadeira se fosse furando o plano desse espaço sem que se pudesse vará-lo do “outro lado”, e esse “outro lado” seria o “outro espaço” (como aquela cena do Matrix quando o Neo coloca o dedo dentro do espelho, só que seu dedo não sai do outro lado do espelho, mas sai em outro espaço, a matrix.)
E falar de Matrix me lembra outra questão, muito corrente esses dias: a da interação cibernético-cerebral, como a que vemos no filme. Hoje em dia vemos membros mecânicos que são desenvolvidos a adaptarem-se maravilhosamente aos impulsos eletrônicos do cerébro. Assim, parece não tardar muito o tempo em que se poderá daqui de Campinas apertar a mão do Pedro aí em Belo Horizonte (ou mesmo nem precisaria ser a sua mão física, mas uma outra mão virtual sua, que transmitira ao tenebroso cérebro daquele ilustre itaunense o mesmo aperto). E depois serão cheiros, gostos, que mais? Não dizia aquele Judas do Matrix (Cypher?) que mesmo sabendo que o bife era uma série de informações de computador, ainda assim, valia a pena?
Isso tudo pra falar de outra coisa. Um dos sérios problemas dos espaço físico é sua fisicidade. Há o longe, o perto, o limite temporal, a necessidade de se construir prédios para alojar a crescente população, a necessidade de um espaço de trabalho, a necessidade de se colonizar a lua, marte e etc... – enfim, não parecem as propriedades elas mesmas do espaço físico uma constante ameaça, um constante obstáculo a um possível estabelecimento de uma intercomunicação-total da humanidade? Uma igualdade entre os homens?
A internet poderia, assim, agir como um efeito equalizador entre os homens: estão todos à mesma distância uns dos outros, têm o mesmo tamanho, enfim, são todos sujeitos cybernéticos... mas isso soa a baboseira. Quem seria tão marxista a imaginar que relações de poder iriam assim dissolver-se todas em direção a um “novo” comunismo? Mas se olharmos por outro lado e imaginarmos que as relações de poder encontrarão seus meios de manterem sua existência (um melhor computador, um melhor código cybernético) vemos assim que mesmo esse surginte espaço produz nele mesmo suas próprias negações, (coisa parecida com aquilo do Matrix, de o próprio sistema gerar sempre um Neo e um Smith à altura) de forma a manter as coisas, mesmo mudando-as de lugar, num patamar semelhante ao anterior.
O que também devemos dizer que aconteceu no caso do espaço-consciência, que poderia ter se tornado o livre império da subjetividade, mas vemo-nos ainda, e toda a história da humanidade é disso prova, em constantes embates contra e a favor do pecado e dos desejos, da vontade e da repressão, da religiosidade, da estética, da ciência, etc.
Ou seja, esse último ponto encerra uma questão antiga: há progresso? Não digo sobre essa ilusão de progresso tecnológico, mas a questão: saímos do lugar, ou giramos apenas em círculo, tendo a impressão de nos movermos, mas em verdade giramos sob um mesmo ponto. Se esses novos sistemas de espaços trazem consigo numa mão uma nova esperança de liberdade, noutra eles trazem novas possibilidades de domínio; novas leis e novos crimes; novos senhores e novos escravos...
Já disse coisas demais sem dizer nada, e mesmo assim, ainda há tanto a dizer! Mas se eu continuar nesse palavrório sem fim, que diálogo é que virá?
Acho que pensar sobre as leis que regem a internet deve ser como pensar sobre as leis da mecânica antes de newton, ou como pensar sobre o funcionamento psicológico antes de freud...Como eu não conheço nada de internet e tenho minha cabeça atormentada por caras como Hegel e Nietzsche ao mesmo tempo, que a tarefa de pensar sobre essa coisa, a internet, seja sua, Pedro, mais do que minha. Do contrário a internet estará perdida...
quinta-feira, abril 27, 2006
O Saguão
Maren, um veterano na Agência, já havia notado. O nervosismo indicava que as palavras diretas dele surtiram efeito no diretor. Atentando para o caminhar rápido do diretor, Maren também percebeu que ele queria que os inspetores saíssem logo dali, e, por isso, apressava-se em levá-los onde queriam, para que quando mais cedo chegassem, mais cedo saíssem. Bem, isso é o que, pelo menos, esperava o diretor Moreau.
Quando chegaram finalmente até a porta, o sr. Moreau passou o cartão num dispositivo de segurança e a trava foi liberada. A grande porta se abriu e, logo após o primeiro jogo de escadas rolantes, os inspetores se surpreenderam com o que viram. Um grande saguão, realmente enorme. Grandes máquinas muito bem refrigeradas estavam ligadas e uma série de funcionários fazia um trabalho de observação nos medidores de cada uma. Estavam atentos às pranchetas eletrônicas que carregavam, conectadas às máquinas gigantes. Dali, destas pranchetas, mantinham o sistema da Rede VI funcionando. Os inspetores caminharam por uma plataforma que circundava todo o saguão. Dali viram que eram quase trinta corredores, dispostos de maneira circular, que se encontravam no centro do saguão, onde havia uma sala com paredes negras e uma única porta vermelha. Lá, ao centro dos corredores, estava o cérebro do mainframe. Apenas um terminal ligava qualquer um a qualquer lugar mantido pela ou na Rede VI.
Os funcionários, vestidos com uniformes brancos e máscaras de gás (para evitar problemas com um acidental vazamento do gás refrigerador) pareciam outras máquinas. Seus movimentos eram sutis e metódicos, quase maquínicos. Lá de baixo, um deles, com um símbolo diferente no uniforme, percebeu a entrada dos inspetores e do sr. Moreau e veio logo em direção a eles.
- "Como vão senhores? Algum problema sr. Moreau?" - aproximou-se retirando a máscara e o capuz, cumprimentando-os todos com um forte aperto de mãos.
- "Sr. Coddans, estes são os inspetores da Agência de Repressão ao Ciberterrorismo. Inspetor Zraninsk e Inspetor Maren. Vieram dar uma verificada nos nossos computadores e..." - antes que o sr. Moreau terminasse de falar o inspetor Maren interferiu.
- "É um prazer conhecê-lo, sr. Coddans. Na verdade eu e meu parceiros não viemos apenas 'dar uma verificada' nas máquinas. Viemos conhecê-las. Analisar cada uma das estruturas que mantém a Rede VI funcionando. Percebemos uma máscara nos nós de conexão que apontava para uma rede beta. O sr. Moreau nos informou que de fato há realmente uma rede beta, uma espécie de backup. A existência dessa rede é legal, mas seu funcionamento simultâneo com a outra não é. Mas já que os ataques aconteceram, suspeitamos que alguém teve acesso à rede beta e dela fez o ataque." - O inspetor Maren falava com clareza e saboreava cada uma das palavras. Sua precisão na utilização delas assustava e nenhuma falha em suas frases poderia incomodar. Não havia duplo sentido ou erros de sintaxe.
- "Bem inspetor. Realmente a rede beta foi ligada quando percebeu a duplicação inicial de alguns nós. Ela é mantida em stand by mas possui sensores na rede alfa. Qualquer anormalidade a ativa instantaneamente." - Coddans parecia ter decorado sua fala, como se fosse um guia turístico. Isso incomodava Maren. - "Além disso, o inspetor deve saber que as novas regulamentações da ARC permitem a manutenção simultânea de uma rede beta, somente não permite que ela esteja simultaneamente conectada à outra. Outro ponto que acho que deveria saber é..." - Maren interferiu na fala do funcionário rapidamente.
- "Com todo respeito sr. Coddans, não creio que seja necessário alertar-me sobre as normatizações e burocracias da ARC." - afirmou com certo desdém.
- "E por que o sr. acha que não, inspetor?" - retrucou Coddans de maneira inquisitória. Sua mão esquerda fechada e firme indicava tensão. A outra estava ocupada retirando o telefone celular do bolso da calça, por dentro do uniforme.
- "Por que eu fui o consultor geral da ARC quando escreveram essas normas. De maneira mais clara, eu as finalizei." - o inspetor respondeu passando pelo sr. Coddans, apoiando-se no parapeito de metal, fixando seus olhos nas paredes negras ao centro do saguão. - "Acho melhor o sr. Coddans nos levar até onde desejamos, sr. Moreau." - falou voltando-se para trás, chamando Zraninsk que apenas aguardava calado, segurando uma risada sarcástica pela qual Coddans pagaria alto para não ter que ouvir.
- "Certamente, inspetor. Certamente." - respondeu com voz baixa, quase arrancada por entre os dentes, rangentes de raiva. - "Coddans, acompanhe os inspetores. Mostre-os todo o saguão."
quarta-feira, abril 26, 2006
Controle Total
Quando o pai chegou no quarto e percebeu a mensagem na tela, rapidamente correu para a tomada e desligou todo o computador. O site estava travado e uma janela de alerta havia sido aberta com os seguintes dizeres: "Informação não é moeda de troca, é liberdade e direito. Você foi recrutado!" A mensagem por si só já era assustadora, mas o temor maior vinha logo abaixo do texto, em uma imagem pequena e simples, na verdade, uma sigla estilizada. A sigla era NFF.
- "O que é NFF, pai?"
- "Nada meu filho. Você é muito novo para entender esses loucos que vivem por aí. Amanhã vamos comprar uma vacina pra nossa máquina. Até lá acho melhor manter o computador desligado, ok?"
O garoto se chamava Marco Fuentes, tinha 13 anos. Nascido e criado no mundo conectado. Aprendeu a ler bem antes dos outros meninos. Aos 12 anos já havia feito seu primeiro site, algo não muito diferente para sua idade. Mas a questão é que o site que ele desenvolveu tinha uma estrutura de programação sofisticada demais para sua idade. Coisa que alguns bons universitários ainda estavam aprendendo.
---
- "Eu entendo, sargento. Mas fico preocupado. Marco é viciado em Rede. Entendo. Sim. Sim. Gostaria que viesse aqui analisar a segurança da máquina. Sério? Então creio que é melhor. O senhor tem o telefone? Ótimo... É de graça mesmo? Só entregar a máquina e apresentar o boletim de ocorrência? Ótimo. Muito obrigado."
O pai vai ao quarto do filho, desliga a máquina e empacota. O garoto estava na aula. Chegaria só à noite. Era o momento ideal, e, pensava o pai, menos doloroso.
Passados alguns minutos após um telefonema feito à MagnaNet Secure Service, a campanhia tocou. Eram dois homens, com uniformes azúis, usando bonés com a logomarca da MagnaNet.
- "Boa tarde. O sr. deve ser o sr. Carlos Fuentes, certo? Pode nos mostrar uma identificação?" - antes que o pai colocasse a identidade de volta no bolso o homem pediu para apanhar a máquina. O pai entregou a caixa. Quando já se despedia deles o outro se aproximou. - "Sr. Fuentes. É exigido pela empresa que façamos uma verificação da linha de conexão da sua casa. O sr. é integrado à Rede..." - "Quatro, cinco e seis." - completou o pai rapidamente. - "Certo. Posso fazer a verificação. Não demoro mais que três minutos. Prometo. É rotina da empresa." - afirmou o homem entrando na casa. - "Claro. Vamos até o quarto dele... Ah.. aqui está o boletim de ocorrência."
Os três subiram a escadaria. Ao entrarem no quarto do menino, o mais alto foi até a saída de conexão na parede. Retirou da maleta um aparelho pequeno e prateado. Desparafusou o conector das redes e começou a mexer. Quando o pai se aproximava para acompanhar, o outro homem o chamou de volta. - "Sr. Carlos. O seu filho tem 12 anos, correto? Ele tem algum comportamento estranho ou costuma ser curioso em relação à Rede? Pergunto isso porque tal tipo de pessoa pode se envolver, inocentemente, em confusões na Rede... Seduzidos pelas ferramentas que existem por aí, muitos garotos com a idade dele perturbaram a ordem na Rede e seus pais tiveram que pagar multas altíssimas."
O pai ficou preocupado. Mas preferiu omitir o fato da genialidade de seu filho ter sido alvo de séria investigação por parte de membros da conceituada A.R.C. e do Departamento de Defesa Digital. - "Acho que não. Ele usa para ter aulas, jogar com os amigos e conversar com outras pessoas." - O homem falou olhando em seus olhos. - "O sr. sabe que pessoas são essas?" - O pai ficou aborrecido e respondeu sério, com voz autoritária. - "Eu não vigio meu filho." -"Pois devia!" - respondeu o homem ironicamente. - Quando o pai se aproximou mais para dar uma resposta à altura, o outro homem se aproximou e informou ter terminado o serviço. Havia trocado os conectores por outros mais atualizados. Ainda, antes de sairem da casa, entregaram um documento para o Sr. Fuentes, informando que devido ao incômodo a MagnaNet daria, como cortesia e pedido de desculpas, dois meses de conexão às redes usadas. Sem custo algum.
A preocupação do pai acabou rapidamente e ele, logo que fechou a porta, ligou para o número do documento e informou a senha. A telefonista informou que sua nova máquina chegaria em um dia útil e que, a partir de seu primeiro acesso, dois meses seriam contados como acesso gratuito. O Sr. Fuentes ficou realmente feliz. Agradeceu e se sentiu satisfeito com a qualidade inquestionável dos serviços da MagnaNet.
segunda-feira, abril 03, 2006
Crônica: A Rede VI
Outro dia tenso no ano 2333. Quando os ataques na rede acontecem o mundo corre risco de parar por um instante. Este "instante" pode ser bloqueio de vôos, erros em servidores bancários, roubo de informações codificadas, quedas nas bolsas de valores. Por sorte, as Redes V, VI e VII são destinadas exclusivamente ao tráfego de usuários e recursos voltados para o público em geral. Para a sorte das empresas claro... E azar dos usuários normais, que ainda lêem emails, conversam com familiares e navegam pelas Redes. Aliás, é a primeira vez que um grupo realmente organizado, como a NFF, ataca uma Rede de usuários comuns. E, por incrível que pareça, tal ataque deixou as autoridades realmente preocupadas.
Na sala principal de reuniões do edifício-fortaleza da MagnaCorp., o inspetor Maren aguarda um representante da corporação. Enquanto espera para solicitar acesso ao servidor da Rede VI, Maren se deslumbra com a fabulosa mesa de vidro escuro, e com seus 50 lugares. Ao lado de Maren, de pé atrás de sua cadeira, está o programador e inspetor Zraninsk. Uma porta no fundo da grande sala se abre. Um homem de baixa estatura e careca, usando um óculos de armação redonda e vestindo um jaleco de cientista se apresenta.
-"Boa tarde senhores. Gostaria de agradecer pela rapidez em antender nosso chamado. Falo em nome da MagnaNet. A partir de agora sou o único a responder suas perguntas. Espero que sua Agência tenha muitas perguntas, mas, de fato, antes de tudo, estou interessado em suas respostas. Meu nome é Godfred Moureau, diretor técnico da MagnaNet. Podemos começar..."
Maren e Zraninsk eram, talvez, os melhores agente em atividade da Agência de Repressão ao Ciberterrorismo, a ARC. Estavam ali, na verdade, não apenas porque um megacorporação os havia "convocado", mas também porque a ARC tinha especial interesse em ter acesso aos servidores da MagnaNet. Os ataques terroristas à corporação podiam ser atos espontâneos contra os grandes mantenedores do "sistema", mas, talvez pudessem ter um fundo de verdade. A MagnaNet apenas oferece o acesso à Rede VI, ou também o controla e vigia?
Algumas fontes haviam informado que a Rede VI era, para a MagnaCorp., um propriedade particular, e não uma concessão pública. Essas fontes, antes de revelarem as informações, pediram para entrar para o Programa de Proteção à Testemunha, de seus respectivos países. Informação controlada e orientada. Este crime está especificado como "crime contra a humanidade" na Constituição das Redes, de 2297. Sobravam denúncias, faltavam provas.
-"Sr. Moureau. Eu sou o inspetor Maren e este é meu parceiro, inspetor Zraninsk. As respostas que espera de nós talvez não satisfaçam sua expectativa. Bit, o terrorista confesso de tais ataques, não foi encontrado e as pistas que deixou foram metodicamente estudas por ele mesmo. Resumindo, ele planejou tudo com maestria e ainda estamos procurando brechas em seus passos. Mas, aproveitando o assunto, gostaria que confirmasse para mim a não existência de uma rede paralela à Rede VI. Uma tal Rede VI Beta." - os olhos de Moureau perderam o brilho que lhes conferia alguma autoridade. Talvez a direta de Maren o pegara desprevinido. Ele respirou fundo e tirou alguns papéis da pasta que seu assitente carregava.
-"Senhores. A MagnaNet mantém, de fato, uma Rede Beta para atividades de manutenção e segurança. A rede nada mais é que um backup da Rede VI. Um "mirror", se me compreendem. Mas não entendo o que isso tem de importante em relação aos prejuízos bilionários que a MagnaNet poderia ter sofrido com os ataques deste criminoso."
-"A verdade, Sr. Moureau, é que suspeitamos que ele tenha acesso à Rede Beta, pois, em nossos rastreamentos na Rede, os nós de onde surgiram os primeiros ataques são os mesmos atacados. Como isso pode funcionar? A Rede Beta é mantida ligada continuamente? Quem pode acessá-la? Quem tem acesso a o quê, sr. Moureau?"
Maren foi direto mais uma vez. Sua voz era alta e forte. Suas perguntas claras e objetivas. Ele conduzia a investigação de maneira a intimidar até mesmo quem prestava a queixa. Maren era perito nisso e, de fato, poucos se igualavam à sua habilidade de arrancar informações.
(continua)
quarta-feira, março 29, 2006
Ano 2333.
Depois de sutis retrocessos no crescimento populacional o mundo adapta-se aos 8 bilhões que agora esbarram nas ruas. Houve reconfiguração geopolítica mundial. Grandes conglomerados econômicos tentaram no passado unir suas moedas e suas culturas... Um desastre!
A engenharia espacial começa a se aproximar de sonhos da conquista do espaço. Clones humanos são criados clandestinamente para abastecer o milionário mercado de órgãos e pesquisa biomédicas, voltadas, com certeza, para fins de guerra, e não de paz.
Doenças com rápido ciclo de contágio assustam e dizimam. Catástrofes naturais estão mais furiosas e recorrentes. Novas misturas químicas introduziram novos poderes às drogas e o narcotráfico está mais bem armado que os exércitos de muitas nações. Megacorporações atrelam seus interesses capitalistas ao destino de povos inteiros. O petróleo perdeu força para os biocombustíveis e para os novos métodos de geração de energia e para as baterias que mantêm os carros nas ruas e o mundo funcionando. A eletricidade é agora gerada, prioritariamente em grandes complexos nucleares. Protocolo de Kyoto? O que vem a ser isso?
Apesar do estado apocalíptico que, tomara, antecede o fim da selvageria do capitalismo, alguns grupos se organizaram e encontraram um espaço para manterem suas flâmulas altas, suas bandeiras e causas hasteadas e seus bastiões impenetráveis: a rede.
Tecnologia de informação há uns dois séculos atrás era coisa de gente rica ou arrojada. Hoje não passa de "mais um serviço oferecido para aproximar você de seus sonhos", como diria a MagnaNet, empresa do grupo Magna. Celulares tornaram-se chips acoplados ao ouvido, com extensões que podem ser facilmente acessadas em qualquer DPV, Dispostivo Plasma Visualizador, um aparelho que você leva no bolso ou usa perto de uma cabine de conexão. Uma espécie de tela que coloca você em contato com toda a rede. Com toques dos dedos você acessa o que quer na rede, vê noticiários, acompanha esportes e guerrilhas, além de acompanhar as cotações das cinco bolsas de valores restantes no planeta. Se tiver um pouco de tempo pode ainda participar de campeonatos de centenas de jogos, com jogadores de todo o mundo.
As ruas tornaram-se mais largas e acompanhadas por "corrimões" baixos, tudo para que os distraídos que estão conectados à rede não sejam atropelados. Todos os carros possuem sensores que desativam os aparelhos de conexão, para evitar acidentes. Fábricas e empreiteiras também investem milhões na compra dos sensores, chamados gentilmente de "chatos".
O acesso a tamanha tecnologia é gratuito. "Tudo para permitir que você se aproxime mais ainda dos seus sonhos." Você não gasta nada para usar ou se conectar às redes. Os anunciantes fecham parcerias com as empresas, e os pacotes e kits para acesso variam de acordo com a quantidade de publicidade que você está disposto a receber via mensagem, serviço multimídia e hiperconexão. Eu estou no pacote básico. Recebo 10 mensagens multimídia por dia, informando-me das novidades do mundo conectado e de artefatos antigos. Pelo menos hoje em dia você pode escolher a publicidade que vai incomodar você. As mensagens publicitárias agora respeitam o horário compreendido entre as 22h e as 06h. Bons sonhos!
As cidades estão mais altas. Na verdade por dois motivos básicos. Primeiro o nível do mar subiu em todo o planeta. Veneza, Rio de Janeiro, Nova Iorque, Roterdã... Todas semi-engolidas pelo mar cada vez mais quente. Segundo motivo é o fato de os prédios agora terem muitos e muitos andares. Muitos mesmo. Os carros aqui não voam, e parece que os Jetsons ainda estão longe daqui, mas, as distâncias estão menores... As CED, Câmaras de Entreternimento Dimensional, levam você a qualquer parte do mundo, por quanto tempo você quiser, desde que possa pagar a "viagem".
O terrorismo acabou. Grupos radicais hoje não mais prometem o céu para homens que coloquem explosivos no próprio corpo. Eles agora estão atuando em outro lugar, de maneira mais sutil e eficiente. Estão trabalhando no "mundo conectado". As redes não são mais brincadeira. Agora a guerra é declarada, e, em alguns casos, milhares e milhares de nós de conexão e servidores são desligados até que a situação seja controlada. Ameaças virtuais tornaram-se armas de guerra ideológica e política. Boatos ganham a dimensão do mundo e, até que se prove o contrário, ministros, chanceleres, premiers, presidentes, prefeitos, governadores já caíram. Por incrível que pareça, ninguém mais coloca um site que se preze na rede sem fazer seguro dele. Advinha quem é uma das maiores seguradoras do mundo conectado à Rede 1? MagnaNet Security Services, do grupo MagnaNet, da megacorporação Magna.
(continua)
quinta-feira, março 23, 2006
A Comunicação Aliada à Saúde Pública
Infelizmente são poucas as instituições que oferecem cursos de especialização ou mestrado em comunicação em saúde, salvo algumas exceções como a Fiocruz, a Universidade Metodista de São Paulo e algumas outras. Essas instituições contribuem para a melhor formação do comunicador especializado em saúde.
Entender o processo do uso e a importância desta comunicação em saúde pública é, de certa forma, poder estabelecer uma relação mais próxima das nuances que abarcam a prática em saúde e onde ela transita e comunica. DO CARMO, Sidney José. Revista Mineira de Saúde Pública, Ed Funed, BH 2003).
A comunicação de massa pode ser uma forte aliada na melhoria da informação sobre doenças e sobre o meio de evita-las.
Mass media que dizer meios de comunicação tecnicamente aptos à difusão simultânea de toda espécie de informação, destinando-a a um número indiscriminado de indivíduos. Esses meios de comunicação modernos são, além do cinema, os jornais, as revistas, as emissoras de rádio e, sobretudo, as redes de televisão. (POLISTCHUK, Ilana e TRINTA, Aluízio Ramos. Teorias da Comunicação: O pensamento e a prática da Comunicação Social. Ed. Campus RJ 2003).
Infelizmente a comunicação de massa está mais preocupada em vender produtos para a saúde do que divulgar métodos básicos de prevenção contra doenças. Não seria mais eficaz e barato, a televisão (seja o rádio e outros meios) ensinar métodos básicos de prevenção contra doenças relacionadas, por exemplo, à falta de higiene e saneamento básico? Outro exemplo, e que é um problema grave, são as doenças tropicais que atingem os países periféricos, como a malária, dengue e tantas outras. Essas doenças poderiam ser amenizadas se projetos de comunicação e políticas de saúde pública fossem usados em parceria.
Mas afinal o que é saúde pública? o termo significa:
Saúde Pública é a aplicação dos conhecimentos médicos, enfeixados pelos epidemiológicos (no Brasil: epidemiologistas), com o objetivo de impedir a incidência de doença nas populações. (pt.wikipedia.org/wiki/Saúde_Pública)
É justamente na disseminação desses conhecimentos médicos, que a comunicação deve agir, ou seja, transformando esse conhecimento que muitas vezes é carregado de chavões e termos técnicos, em informações mais simples e eficazes para a população.
Um exemplo de como a comunicação pode ser útil para a saúde, são as campanhas feitas para esclarecimento e prevenção da Aids. É claro que não foram somente as propagandas e sim todo o conjunto de esforços das Secretarias de Saúde, mas a comunicação também foi e continua sendo uma forte aliada para manter o Brasil no ranking dos países que são referencia no tratamento e prevenção dessa doença. É claro que ainda tem muito que fazer nesse campo, mas acredito que a comunicação tem seu papel. Outro exemplo, que aconteceu em Belo Horizonte, é que segundo o Hemominas, nos anos em que foram feitas campanhas para incentivar a doação de órgãos, constatou um aumento significativo. Por exemplo, em 2004, ano em que foram feitas campanhas, foram realizados,1.810 transplantes, já em 2005, ano que não foram realizadas campanhas, o número caiu para 1.459 transplantes.
Bom, cabe aqui pensar e repensar sobre a importância que a comunicação social tem no campo da saúde. Acredito que se fossem feitas campanhas mais eficazes contra o combate de doenças consideradas um problema de saúde pública, dá para imaginar o quanto o governo deixaria de gastar com leitos no Sistema Único de Saúde. Uma população bem informada e preparada para a prevenção de doenças, que poderiam ser evitadas com medidas simples, dependeria menos do SUS e com certeza a qualidade de vida de milhões de pessoas iria melhorar significativamente.
sábado, março 11, 2006
... "No futuro, quase tudo o que passará nos cinemas serão filmes independentes. Prevejo que em 2025 o custo médio de um filme será de 15 milhões"
- Entrevista de George Lucas ao The New York Daily News
"Publico do Oscar foi 10% menor mesmo com cowboys gays"
- Yahoo.com.br
Não Neo, você já está no mundo real! A primeira frase veio da boca do mesmo cara que gastou quase 200 milhões de verdinhas pra fazer o seu último filme e que fez uma das séries cinematográficas mais rentaveis dos ultimos anos. E a última nota mostra que realmente estão dando na cara que aqueles musicais são um verdadeiro pé-no-saco, e que nem o decote da Angelina tem força pra salvar o Oscar.
O que seria isso?! Um mundo pós Mad Max? Pós Admiravel mundo novo? Como assim meu senhor? Será que o vai reinar nos próximos anos não vão ser as cores e a baranguisse oitentistas, e sim a geração que deu mais valor á Nirvana e Kurt do que ao He-man e aos Tundercats? Não vamos ter mais que ouvir regravações e bandas pop rock tocando o som da Turma do balão mágico? Capital Inicial vai pedir aposentadoria finalmente? Não... me acordem, isso é um sonho.
Vamos por partes. Em 2005, dois dos filmes mais bacanas tiveram o custo de menos de 50 milhões de dólares ( Sin City, Senhor das armas ). Uma verdadeira bagatela pro mercado Hollywoodiano. Sem contar o sucesso que foi "Jogos Mortais", assim como sua continuação, que juntos, não custaram nem 8 mi. Ou seja, juntos fizeram mais ( e melhor ) até mesmo do que o nosso detestavel "Olga". Até o mundo da música pop, se formos ver bem, está menos "construido". Se for ver, que até mesmo a volta dos Backstreet boys, que tanto me faria tomar calmantes, se eu tivesse idade pra isso na época, foi pela boca de lobo ( da rua de trás ) abaixo. Avril Lavigne, Good Charllote e outros, são tão porcaria quanto, mas ainda são: Baixo, guitarra, bateria e vocal. Ou seja, ainda podem fazer alguns, tomarem gosto pela boa musica, num futuro nao tao distante, e nessa mesma galaxia. Código da Vinci, por melhor, ou pior que seja, mostrou como que muita gente ( e acreditem, até mesmo no Brasil ) tem ainda, gosto pela leitura, e até mesmo, pela "verdade", porque não?
Será que agora que estão vendo o efeito "Pulp Fiction", "Cães de aluguel", "Drink no inferno", "El Mariach" e porque não, "Bruxa de Blair" do século passado, no mercado? O efeito Napster >> KaZaA > E-mule?
Hoje, podemos ter de tudo 0800, graças á banda larga. E não adianta a Sony chiar, porque ela é uma das que mais vende CD-RW no mundo, ora bolas. Como eu disse, podemos ter de tudo, por isso somos mais exigentes. Não inclua no "somos", os sem mãe que ainda colocam o chevette 79, lá no 'talo', com aquela baranguisse de neon em baixo e fica passando de lado no quebra-molas pra nao arranhar o fundo, tudo isso ao som de "tô ficando atoladinha". Esse é o efeito E-mule. Nós temos facilmente de tudo, entao só corremos REALMENTE atrás, do novo, do interessante. O CD novo do Los Hermanos, nos pegamos, ouvimos, e apagamos, ou deixamos lá, junto com as outros 20GB de mp3 ( ainda bem ), enquanto que o novo do System, Iggy, Chemical, Pearl, Audio, Nine, e outros, nós gravamos e ouvimos o tempo todo, ou porque não, até compramos. O novo do Michael Bay, nos pegamos, vemos, e apagamos pra liberar espaço, ou devolvemos o CD ( made in Oi ) para o nosso vizinho. Enquanto Sin City e outros, nos compramos ( Made in Submarino ).
O mundo underground está ficando menos "under". Isso lá tem seu lado bom, claro. Agora o que vai contar é mais a idéia, do que a grana investida na publicidade ( posso começar a me preocupar com emprego? ) e bonequinhos. Os diretores de arte vao ter que fazer melhor, com menos. Os estudios caseiros, com Linux nas maquinas, e 3Ds Max, After Effects, Sound Forge, Photoshop piratas vao reinar. Owell não pensava nisso.
Pra terminar, gostaria de deixar aqui outros casos de evidência atual, que não posso deixar passar:
O sucesso de "Counter Strike", jogo 0800, e que é o mais jogando nas Lans do mundo.
A capa da SET deste mês ( revista mais famosa de video no Brasil ), pela primeira vez trazendo uma série de TV, e falando de como as séries estão ganhando mais importância do que os filmes, para as grandes produtoras.
O Sucesso de CD's de garagem como o primeiro do nacional Planet Hemp e do primeiro dos Californianos do Offspring.
O número maior de pessoas usando Linux, ao invés de Window$.
Entre outros.