sábado, fevereiro 18, 2006

O ócio e a Internet

Minhas férias foram um passeio entre leitura, Internet, jogos online e bate-papo. Nunca o ócio me fez tão bem. Acordar três horas da tarde, dormir às seis, quando o relógio de casa desperta. Descobrir que estamos velhos demais para conviver com nossos pais, com ordens e regras impostas. Minhas férias também serviram para comprovar que o amor que queremos e esperamos pode ser cruel e indigesto demasiadamente. E que ter auto-controle é a coisa mais complicada do mundo. Enfim, esses vários dias reafirmaram tudo que eu via e muitas vezes não aceitava.
Mas curioso mesmo foi atestar como as pessoas se agarram em qualquer coisa para enganar sua solidão. E como crescemos e ficamos cada vez mais sós, na medida em que o tempo passa, descobrimos que o único caminho é ficar consigo mesmo.
Difícil explicar isso! Sim é difícil!
É complicado aceitar as pessoas como elas são, queremos “comprar” o melhor produto, mesmo não sabendo definir bem o que seja.
E por que digo isso?
Pois bem! Todo esse tempo ocioso, me foi de grande valia para pesquisar as maravilhas da Internet. Sites de foto de festas, pessoas sorrindo, se mostrando, se promovendo, e no fim se remoendo. Sites de relacionamento, do qual o destaque é o Orkut, em que cada participante tenta “vender seu peixe” da melhor forma que lhe convém. Engraçado que no Orkut todos adoram ler grandes clássicos do senso comum, grandes autores, grandes filósofos. Mas para vender melhor seu peixe vale a penas até colocar livro que nunca leu, afinal, só compramos o mais inteligente, o mais cult. Em outras palavras, por que vou dizer a verdade se poso mentir e parecer bem mais interessante? Há também os mecanismos de mensagens instantâneas. Esses sim são o paraíso dos solitários. Eu particularmente uso Skype e MSN, e discordando do post anteriores não gosto do ICQ apesar de ser da era dele. MSN uso mesmo pra conversar com amigos e alguns conhecidos. Mas o Skype é o paraíso dos insones, solitários, angustiados e afins. Com o modo Skype-me tem-se a possibilidade de se deixar conectar ao mundo inteiro bem como se conectar diretamente nele. As pessoas vão adicionando ocasionalmente e tentando encontrar um perfil que se encaixe. Eu mesmo já fui abordado por diversos tipos. Um português que queria apenas conversar. Uma polonesa apaixonada por latinos, que segundo ela são os homens mais bonitos e românticos do mundo. Estereótipos a parte, um bando de asiáticos, achando que o Brasil é sexo, sexo e prostitutas; como um indiano que me pediu pra traduzir uma conversa dele com uma brasileira e presenciamos o ridículo dele tendo um sonoro orgasmo virtual. Um francês que queria fazer sexo virtual com meninos, um jordaniano com o mesmo intuito, e pior ainda um indonésio casado que queria vir ao Brasil se encontrar comigo, sem ao menos me perguntar meu nome. Umas duas mulheres que insinuaram um ato sexual. Teve até um mulçumano, turco, que veio protestar comigo sobre as charges dinamarquesas, e dos infiéis do ocidente. Pois bem, de todos esses ainda tenho na minha lista a polonesa, com quem gosto de conversar, e que no cúmulo da solidão (talvez não) chegou a me dizer até um “eu te amo”. Restaram na minha seleta lista o português, alguns amigos, e alguns outros com quem falo muito pouco. Todos os outros citados foram excluídos, é claro, quando revelaram suas reais intenções.
Só tenho uma quase certeza. Tudo isso. Tudo. “Skypes”, “orkuts”, “fotos” e derivados são apenas fugas para escapar da solidão, do medo e principalmente do fracasso. Fracassos sociais, amorosos e ideológicos. Imagem é tudo, não é mesmo?! Então vista sua e seja feliz.

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