sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Orkut e conteúdo colaborativo: uma união inusitada

O Orkut tomou o Brasil de assalto. Desde meados de 2004, quando o site de relacionamentos teve um crescimento digno da economia chinesa, diversas reportagens, artigos e até teses científicas trataram do assunto no intuito de discutir, e teorizar, o incrível sucesso dessa empreitada virtual. Principalmente no nosso país, que hoje representa algo em torno de 70% do universo de usuários do site.

Muito se discutiu a respeito da razão pela qual o Orkut se tornou tamanho sucesso. O fato de ser uma experiência virtual sem precedentes para inúmeros brasileiros é uma das prováveis razões. A outra é o poço de vaidades e egos em que se tornou o ambiente da telinha azul, onde podemos nos tornar fãs dos amigos queridos, da própria mãe e, por que não, daquela gata com quem queremos um “algo” a mais.

Claro, há também a possibilidade de nos tornarmos voyeurs absolutamente anônimos, indo e vindo nos profiles das pessoas por quem nos interessamos e mesmo aquelas que nunca vimos. A bisbilhotice e a fofoca agora têm um correspondente virtual: os scraps.

Tudo isso é parte integrante do que impulsionou o Orkut a ser um dos endereços mais acessados pelos brasileiros na internet. Mas o mais curioso, e o que o Orkut tem de mais valioso, é pouco discutido pelos meios de comunicação em geral: as comunidades.

É sabido que os seres humanos se agrupam geralmente por grupos familiares e também por grupos de afinidade. O Orkut potencializou esses encontros à enésima potência, criando a possibilidade de descobrirmos pessoas com gostos e interesses os quais jamais imaginamos compartilhar com alguém. As comunidades guardam a grande galinha dos ovos de ouro do site. É nelas que o Orkut se transforma, em muitos casos, em verdadeira fábrica de conhecimentos e troca de experiências. O usuário paciente e que está interessado em determinado assunto pode, com alguns cliques, descobrir grupos de experts em exatamente aquilo que ele necessita saber.

Espaços que discutem filmes, softwares para computador, composição musical, programação, matemática, jornalismo, enfim, a cada discussão nessas comunidades, criamos parâmetros para formar nossa própria opinião acerca de um assunto e expandir nosso conhecimento sobre outro. Um espaço democrático que, salvo exceções, permite a toda e qualquer pessoa expressar sua opinião e contribuir para o bolo de conhecimento que ali se forma.

Infelizmente, por vezes, a moderação (que também podemos chamar de edição) é pouco exercida e pode, inclusive, estar na mão de pessoas que realmente não sabem medir o valor daquilo que “vigiam”. Como todo site de conteúdo colaborativo, o Orkut está sujeito a ser mal utilizado justamente por ser um espaço quase anárquico.

É preciso então separar o joio do trigo. De fato, existem as comunidades que unem o inútil ao desagradável. Infelizmente, por ser um site interativo, do Orkut é feito o que os usuários quiserem. De um ambiente pacífico e inteligente, pode vir a se tornar uma grande lata de lixo virtual.

É bom recuperar a discussão que o colega Pedro Penido iniciou no post abaixo a respeito das verdades absolutas. Diferentemente do que ele aponta na enciclopédia virtual de conteúdo colaborativo Wikipedia (www.wikipedia.org), o Orkut é sim um espaço onde a construção do conhecimento ocorre paulatinamente, de acordo com a participação dos próprios usuários. Por se tratar de um sistema com threads ou posts que permitem replies (respostas), o site permite que o usuário tenha contato com a idéia inicial e que, concordando ou discordando, possa adicionar um comentário que, por sua vez, poderá ser rebatido e assim por diante. Cabe questionar a qualificação daqueles que discutem, mas isso é assunto para outro post.

Dentro dessa linha, mas com muito mais organização, valem como sugestão os sites Webinsider (http://www.webinsider.com.br/) e Digestivo Cultural (http://www.digestivocultural.com.br/) além, é claro, do Observatório da Imprensa (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/). São todos sites de conteúdo colaborativo, uns com sistema de resposta e outros não, mas todos rigidamente controlados (ou seja, editados) para que haja o máximo de qualidade intelectual em cada post, de forma a construir um conhecimento mais sólido e rico.

De toda forma, é por essa razão, as comunidades, que os críticos do Orkut deveriam repensar suas posições. O site em si jamais é a causa dos problemas que lá ocorrem. A falta de discrição e bom senso levam muitas pessoas a cometer o malfadado “orkuticídio”. Entretanto, mesmo sem ter a posse dos dados oficiais, é razoável afirmar que a maioria das pessoas que se auto-excluem do site têm razões particulares relacionadas a pessoas próximas para tal ato. Deixam para trás a dor de cabeça das fofocas vazias, mas também abrem mão de um maravilhoso conteúdo que apenas começa a ser explorado. A internet é um espaço democrático e, acima de tudo, com conteúdo construído coletivamente, o conteúdo colaborativo. Essa é a maior vantagem da grande rede: a de poder se rebelar contra as verdades absolutas. Por isso, navegar é preciso e o Orkut também é preciso.

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