Tudo que temos em comum é a ilusão de estarmos juntos. É contra a ilusão dos remédios lícitos que lutamos para romper o isolamento. Ao produzir o isolamento, a sociedade contemporânea assina sua própria sentença de morte. Estamos imersos a uma sociedade individualista. Vivemos em tempos de profunda solidão onde os valores são reduzidos ao final do mês e à fatura do cartão de crédito. Estamos em uma sociedade de consumo onde pressupõe-se que a liberdade é poder comprar e viajar. Falando nisso, como é fácil ir a Miami e passar o final de semana. Glauco e Lurdinha que o digam - a novela acabou mas continua no imaginário.
Se imagine, em um bar com profunda melancolia e de súbito, fazer decolar uma garrafa ou um copo na parede e ninguém se perturbar. Decepcionado na expectativa, você é expulso. Contudo, o seu gesto encontrava-se, virtualmente, na cabeça de todos. Só você concretizou, só você cruzou o primeiro cinturão radioativo do isolamento: o isolamento interior, essa separação introvertida do mundo exterior e do “eu”. Como os blousons noir (ou blusões negros) – nome como eram conhecidos na França os jovens delinqüentes, que agiam em grupos, principalmente nos subúrbios das cidades francesas – você com sua atitude, foi condenado ao exílio enquanto os outros ficam também exilados, porém, na sua própria existência. Você ainda não escapou ao campo magnético do isolamento. Digamos, está em gravidade zero. Contudo, no fundo da indiferença que o acolhe, você consegue ouvir melhor agora seu próprio grito. Consegue libertar-se de uma das amarras. Da próxima vez, a ação tem que ser mais alta, mais estridente para causar um impacto maior. Eis que surge a trinca, a fissura nas superestruturas.
Para não me sentir só, pelos séculos dos séculos.
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