segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Para no sentirme solo ...


...por los siglos de los siglos.

Tudo que temos em comum é a ilusão de estarmos juntos. É contra a ilusão dos remédios lícitos que lutamos para romper o isolamento. Ao produzir o isolamento, a sociedade contemporânea assina sua própria sentença de morte. Estamos imersos a uma sociedade individualista. Vivemos em tempos de profunda solidão onde os valores são reduzidos ao final do mês e à fatura do cartão de crédito. Estamos em uma sociedade de consumo onde pressupõe-se que a liberdade é poder comprar e viajar. Falando nisso, como é fácil ir a Miami e passar o final de semana. Glauco e Lurdinha que o digam - a novela acabou mas continua no imaginário.

Canalizamos nossas vontades e liberdades (porque não libertinagem?) nas 29 polegadas de nossa sala.

Putz !!! O alarme dispara! Será que estão adentrando em minha fortaleza? Deve ser a bola de futebol dos moleques na rua jogando... moleques na rua? Ôôôô! Sô! Em que década estou? Como a piadinha rasteira e infame de sábado à noite: “isto não te pertence mais!” É triste, mas não nos pertence MESMO!

A praça é do povo, disse o poeta. Já, na placa, está escrito: PROPRIEDADE DA MBR. A maioria das praças, muitas restauradas pela mineradora, são para deixarmos nossos corações sadios. Afinal, o trabalho sedentário os machuca não é verdade? Logo, vamos colocar nossas viseiras, aqueles tênis brancos, meias soquetes, camisa levemente arregaçada nas mangas e fazer o ballet. Como cordeirinhos, a passos largos, vamos desentupindo nossas artérias. Estava me esquecendo do cachorrinho de estimação também estressado à nossa frente cheirando os passos do colega da frente. Logo, as crianças não estão na praça a jogar bola. Estão em algum chat, criando alguma comunidade no Orkut, tomando refrigerante ou comendo pizza fria. Pais, não se preocupem! Eles não terão problemas cardíacos. Vão fazer cooper no futuro ou escalarão algum paredão onde um dia foi uma montanha. A mineradora dona da praça deixou para eles.

Vivemos em um profundo isolamento.

Se imagine, em um bar com profunda melancolia e de súbito, fazer decolar uma garrafa ou um copo na parede e ninguém se perturbar. Decepcionado na expectativa, você é expulso. Contudo, o seu gesto encontrava-se, virtualmente, na cabeça de todos. Só você concretizou, só você cruzou o primeiro cinturão radioativo do isolamento: o isolamento interior, essa separação introvertida do mundo exterior e do “eu”. Como os blousons noir (ou blusões negros) – nome como eram conhecidos na França os jovens delinqüentes, que agiam em grupos, principalmente nos subúrbios das cidades francesas – você com sua atitude, foi condenado ao exílio enquanto os outros ficam também exilados, porém, na sua própria existência. Você ainda não escapou ao campo magnético do isolamento. Digamos, está em gravidade zero. Contudo, no fundo da indiferença que o acolhe, você consegue ouvir melhor agora seu próprio grito. Consegue libertar-se de uma das amarras. Da próxima vez, a ação tem que ser mais alta, mais estridente para causar um impacto maior. Eis que surge a trinca, a fissura nas superestruturas.

Em tempos sombrios e reducionistas o que nos resta ?

Para não me sentir só, pelos séculos dos séculos.

Hasta.

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